segunda-feira, 8 de março de 2021

OLORUM - Conceito de Deus na Umbanda

 Olorum

Muitas dúvidas pairam no ar quando o assunto é saber em "qual Deus" o umbandista crê. E a resposta é muito simples: cremos em "UM DEUS"! Contudo, precisamos de uma explicação teológica consistente a partir desse conceito primordial. Sabemos que as chamadas religiões abraâmicas - o Islamismo, o Cristianismo e o Judaísmo - são denominadas Monoteístas, ou seja, todas elas crêem na existência de Um Deus, Criador de tudo e de todos, Onipotente,Onisciente e Onipotente, Singular e Imensurável, Pessoal e Eterno.  Outros conceitos sobre "A Divindade" também existem, como: Politeísmo - crença em vários "deuses" (mas há subdivisões de interpretação); Panteísmo - Deus é a própria Natureza, todo o conjunto de tudo que existe, sendo também considerado "Um", porém não desvincula "Deus" de sua Criação, como o Monoteísmo, que coloca "Deus" distinto, à parte, da Criação; Panenteísmo - este sim o conceito umbandista, o qual abordaremos mais detalhadamente. O PANENTEÍSMO pode ser entendido como uma forma de "Monoteísmo" combinada com "Panteísmo", afirmando que Deus é o "TUDO" da existência, está inserido na existência, mas NÃO é idêntico a esse "tudo", tem suas próprias essência e pessoa. Logo, Deus é tanto IMANENTE (está na Criação) quanto TRANSCENDENTE (transcende a Criação, tendo sua particularidade, "além" e "maior" que a Criação). Um dos conceitos do Panenteísmo Umbandista é a definição de que "o Mau não é o Oposto do Bem", pois o postulado teológico não é dualista ("duas naturezas, essências ou pessoas divinas", uma boa e seu oposto mau), entendido a existência do Mau apenas pela ausência do Bem (Deus de fato). Curiosamente, podemos encontrar na Bíblia um trecho no Livro de Atos dos Apóstolos dois versículos que podem ser interpretados como de conceito puramente Panenteísta.

Actos  17:28,29

"Porque Nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como, também, alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos, também, Sua geração. Sendo nós, pois, geração de Deus, não havemos de cuidar que a Divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens."

Não queremos aqui afrontar a Teologia Cristã, solidificada há séculos e saturada já com suas definições, interpretações e Dogmas, não mesmo! O que o Cristianismo apregoa e defende não nos compete como Umbandistas qualquer afronta, exceto o diálogo inter-religioso, em que cada parte expõe, respeitosamente, seu ponto de vista. E, do nosso ponto de vista, esta passagem do Livro Sagrado Cristão (Bíblia) é a nós interpretada como Panenteísta. E ponto final! Quando dizemos que Deus é TRANSCENDENTE, queremos afirmar que Ele está Além da Criação, além do Tudo e do Nada; possui Sua Essência, Sua Substância própria, Impenetrável, Inefável e completamente alheia e Infinitamente Superior à Criação em sua totalidade. Logo, essa SUBSTÂNCIA DIVINA é a PESSOA DIVINA, resumidamente, o próprio Deus, ou OLORUM. Quando dizemos que Deus é IMANENTE, queremos afirmar que Deus também está Interpenetrado na Criação, que está inseparavelmente contido na natureza de tudo, é Inerente a tudo. Isso quer dizer que a ESSÊNCIA DIVINA permanece a mesma, porém representando Deus a Si Mesmo em um "novo" aspecto, uma  SEGUNDA PESSOA. Para que fique claro, significa que Deus no Seu mais profundo íntimo e ESSÊNCIA, é TRANSCENDENTE, é uma PESSOA caracterizada como "algo" infinitamente além da compreensão e além da Sua criação, mas com total Onisciência e Onipotência - OLORUM. E Deus, ainda na Sua ESSÊNCIA, transfigura-se, Cria-se numa SEGUNDA PESSOA, indissociado da Sua Criação e fazendo também parte dela. Através da SEGUNDA PESSOA tudo foi e é criado e tudo está ou fica contido Nele, e esta Divindade na Umbanda é nosso Grande PAI OXALÁ. Através da Manifestação de Oxalá, Olorum irradia em Si e de Si aquilo que chamamos de SETE LINHAS, onde são GERADOS os SAGRADOS ORIXÁS, todos Eles. Portanto, as SETE LINHAS DE UMBANDA são as Manifestações de Olorum através de Oxalá, surgindo, assim, todas as Hierarquias das Divindades de Deus, os SAGRADOS ORIXÁS. Podemos elucidar, então, que temos uma TRINDADE DIVINA, em que encontramos: OLORUM - OXALÁ - SETE LINHAS (ORIXÁS). Neste nível Divino, todas essas PESSOAS DIVINAS possuem a ESSÊNCIA DIVINA, mas cada um tem sua PERSONIFICAÇÃO, seus aspectos, qualidades, próprios. Devemos alertar os leitores, que esta Trindade Divina é o PRÓPRIO DEUS, não se tratam dos Seres Criados que evoluíram e alcançaram tais níveis ascensionados e evoluídos. Conforme explicaremos oportunamente, a meta da criação é a Divinizacão, quando os seres voltam ao "Interior" Divino, encontrando-se neste conceito uma das características da imanência de Deus. Sabemos que estes argumentos teológicos apresentados são de difícil entendimento, mas como nos propusemos ao clarear dos conhecimentos da Umbanda, é mister que expliquemos. Enfim, o que deve ser entendido pelos leitores é que DEUS forma uma TRINDADE: OLORUM - OXALÁ - SETE LINHAS (ORIXÁS). E é a partir dessa Trindade que tudo tem suas raízes e suas explicações teológicas, assuntos que abordaremos mais à frente.