Hippolyte Léon Denizard Rivail nasceu em Lyon no dia 03 de outubro de 1804, mas foi com o nome de Allan Kardec que ficou mais conhecido o pedagogo e codificador do Espiritismo. Era de família católica, filho do juiz Jean Baptiste Antoine Rivail e de Jeanne Louise Duhamel, estudou na Suíça e se bacharelou em Letras e Ciências.
Allan Kardec era poliglota e de mente brilhante, voltada ao cientificismo e sob forte influência do positivismo em voga à sua época. Em 1850 aposentou-se como professor e a partir de 1854 começou a estudar os fenômenos espíritas sob a ótica científica, sempre precisando da ajuda de outros médiuns para manifestação dos fenômenos, pois ele curiosamente nunca desenvolveu a capacidade de se comunicar mediunicamente com os espíritos.
Concluiu seus trabalhos apontando a existência da continuidade da vida após a morte física e da influência dos espíritos no mundo material. Enquanto fazia experimentos, alguns diziam que era o poder da mente de um integrante dos trabalhos que gerava as manifestações mediúnicas, mas quando o fenômeno ocorria com respostas que nenhum dos integrantes sabia; comprova-se então o fato da presença de alguma forma inteligente às sessões.
Allan Kardec codificou o Espiritismo através de Cinco Obras:
1º O Livro dos Espíritos (1856);
2º O Livro dos Médiuns (1862);
3º O Evangelho Segundo o Espiritismo;
4º O Céu e o Inferno;
5º A Gênese.
No Brasil, o Espiritismo chegou pela Bahia, por volta de 1860 e teve que se adaptar a todo o contexto religioso multicultural em que encontrava o povo brasileiro, mergulhado no domínio do catolicismo e das práticas dos cultos africanos e ameríndios.
Da Bahia se difundiu pelo país de um modo geral e com mais força nas maiores cidades de então, como na capital Rio de Janeiro. Mas foi entre as elites que as práticas foram absorvidas, praticadas e divulgadas.
O termo "espiritismo" é historicamente utilizado como designação por algumas casas ebassociações das religiões afro-brasileiras, e seus membros e frequentadores definem-se como "espíritas". Como exemplo, citam-se a antiga Federação Espírita de Umbanda e as atuais Congregação Espírita Umbandista do Brasil, no estado do Rio de Janeiro, e a Federação Espírita do Brasil, no estado do Espírito Santo.
No Brasil Império, a Constituição de 1824 estabelecia expressamente que a religião oficial do Estado era o Catolicismo. No último quartel do século XIX, com a difusão das idéias e práticas espíritas no país, registraram-se choques não apenas na imprensa, mas também em nível jurídico-policial, nomeadamente em 1881, quando uma comissão de personalidades ligadas à
Federação Espírita Brasileira reuniu-se com o Chefe de Polícia da Corte e, subsequentemente, com o próprio Imperador D. Pedro II, e após a Proclamação da República Brasileira, agora em função do Código Penal de 1890, quando Bezerra de Menezes oficiou ao então presidente da
República, marechal Deodoro da Fonseca, em defesa dos direitos e da liberdade dos espíritas.
Outros momentos de tensão registrar-se-iam durante o Estado Novo nomeadamente em 1937 e em 1941, o que levou a que a prática dos cultos afro-brasileiros conhecesse uma espécie de sincretismo sob a designação "espiritismo", como em época colonial o fizera com o Catolicismo.
Na cidade brasileira de Santos, em 1910 surgiu uma dissidência do movimento espírita, que se denominou "Espiritismo Racional e Científico Cristão" e posteriormente 'Racionalismo Cristão.
Desde a segunda metade da década de 1950, alguns centros espíritas seguem a doutrina
ditada pelo espírito Ramatis ( nas obras psicografadas por Hercílio Maes). Distinguem-se dos centros espíritas tradicionais em função da maior ênfase ao universalismo (origem comum das religiões) e ao estudo comparado de religiões e filosofias espiritualistas ocidentais e orientais.
Nota-se também a influência mais acentuada de correntes de pensamento orientais, tais como o budismo e o hinduísmo e a proximidade com a cosmogonia do espiritualismo universalista.
É comum o uso do termo Kardecismo para definição das práticas espíritas de codificação de Allan Kardec, que não têm dogmas, sacerdotes, patuás, guias, rituais e/ou objetos litúrgicos, logo não é definido como Religião, e sim como Filosofia.
Na verdade, o Espiritismo é um conceito filosófico-religioso cujos maiores pilares são: a existência de um Deus criador, a partir da base de que “nada vem do nada”; o conceito de Carma; o processo de evolução espiritual através da Reencarnação; e a prática mediúnica, tendo como foco a caridade.
Segundo o Espiritismo, o Universo foi criado por Deus e possui incontáveis planos, desde
os mais inferiores até os mais sublimes e próximos da Divindade; a Terra se encontra entre os planos mais inferiores, daí a forte presença do mal, dos vícios, da ignorância, do sofrimento e das doenças, portanto é um dos mundos de provas e expiações.
Cabe ao ser humano purificar-se na vida através das boas ações, da vida em oração, da prática constante do moral cristão, para que “queime” seu Carma e evolua, livrando-se do ciclo reencarnacionista e seja encaminhado para mundos mais perfeitos que a Terra.
Carma 🡺 Lei espiritual de Causa e Efeito, como que uma espécie de 'penalidade' ou 'benevolência' a qual todos devem pagar ou receber por algum ato realizado em prejuízo ou benefício próprio ou dos outros, nesta vida ou em outras anteriores.
Reencarnação 🡺 Processo pela qual o espírito humano passa por diversas vidas materiais, cujo objetivo é a Evolução e a “queima” do Carma.
A Doutrina Espírita acredita que o caminho para o crescimento espiritual é o moral cristão e tem na figura de Jesus Cristo o seu maior exemplo e expoente, portanto se auto considera Cristã. Segundo o Espiritismo, Jesus é um espírito dos mais altos graus de evolução e é o senhor e regente do mundo, que encarnou entre os judeus para trazer a mensagem do Evangelho, que deve ser seguido e divulgado a todos os seres humanos.
A maior verdade do Evangelho para os espíritas é a prática da Caridade, pois sem ela não há Salvação (a plenitude espiritual e fim do ciclo encarnar-morrer-encarnar). Portanto, cabe aos espíritas levar o Evangelho pelo mundo, pregar, praticar e ensinar a fé, o amor e a caridade.
Os espíritas possuem seus próprios locais de reuniões (sob controle de federações), onde se pratica o passe magnético, a leitura e explicação de trechos evangélicos e a prática de fluidificação das águas; muitas casas trabalham também com os passes de curas. Além das reuniões periódicas para atendimento ao público, os lares espíritas incentivam a formação espírita através de aulas e do estudo orientado e leitura das obras psicografadas.
Para se tornar um médium kardecista deve-se passar por um longo processo de estudo e práticas espiritualistas, cujo objetivo maior é a Reforma Íntima, ou seja, fornecer condições para que a pessoa vá adquirindo hábitos cristãos do perdão, temor, disciplina, paciência, amor, esperança e caridade.
Segundo o Espiritismo, o homem tem a capacidade de se comunicar com o mundo espiritual e isso se dá através do mecanismo da mediunidade, que é a capacidade ou dom de intermediar ou perceber algo em duas realidades diferentes. Existem diversos tipos, qualidades e variantes de médiuns e mediunidades:
Incorporação: Fusão de espíritos entre reinos/dimensões diferentes; o espírito do médium se afasta do eixo central do chacra coronário e a mente do espírito de luz (ideal) toma o comando;
Possessão: Incorporação contra a vontade;
Psicografia: Escrita mediúnica, a entidade passa a mensagem do próprio mental para o médium;
Psicofonia: Fala mediúnica, entidade toma controle da voz sem incorporar;
Psicometria: Trás informação pelo toque de objetos;
Pictografia: Pintura mediúnica;
Vidência: As imagens se formam na tela mental do médium (passado, presente ou futuro);
Clarividência: O médium vê o mundo espiritual (Glândula pineal ou 3º olho);
Clarioufativo: O médium sente o cheiro;
Clariaudiência: O médium escuta o som dos espíritos;
Pneumatofonia: Os espíritos fazem ouvir gritos e sons.
Telepatia: O médium entra em sintonia com a mente dos espíritos, na mesma frequência;
Inspiração: Algum espírito irradia ideias na mente do médium;
Intuição: Percepção clara da verdade, sem necessidade de raciocínio. O médium percebe o fato ou acontecimento sem dúvida daquilo que percebe;
Canalização: Captação e irradiação de energia em determinada frequência ou vibração;
Sensitividade: percepção mediúnica, o médium sente espíritos ou situações;
Telecinesia: Os espíritos interagem com a matéria através dos fluidos do médium;
Transporte: Capacidade de atrair a si a incorporação de um espírito;
Desdobramento Mental/ Astral: O guia traz o espírito do médium para ‘fora do corpo’ e anda ao seu lado durante o sono para trabalhar numa faixa espiritual;
Xenoglossia: O médium fala ou escreve em outro idioma;
Parapirogenia: É o dom se se atar fogo mediunicamente;
Autocombustão: O médium se queima só, sem afetar o lugar.
Materialização: É o fenômeno cujo médium provoca a quebra da estrutura da matéria e a refaz em outro lugar com energia;
Clonagem: Médium com capacidade de copiar ou clonar o fluido animal que morreu;
Tiptologia: Médium que provoca manifestação espiritual através da linguagem dos sinais e pancadas alfabéticas.
Calmos: Sempre escrevem ou agem lentamente, sem agitação.
Velozes: Os que escrevem ou agem com rapidez, o que no estado normal, não o fariam;
Convulsivos: Permanecem em estado de superexcitação, quase febril;
Obsedados: Os que não podem se livrar dos espíritos importunos e mistificadores e se iludem com a natureza das comunicações recebidas;
Fascinados: Os que são enganados pelos espíritos mistificadores e se iludem com as comunicações recebidas;
Subjugados: São dominados moralmente e muitas vezes fisicamente pelos espíritos maus;
Levianos: Os que não levam a sério a sua faculdade mediúnica, servindo como divertimento ou finalidades fúteis;
Indiferentes: Não tiram nenhum proveito moral das instruções recebidas e não modificam em nada sua conduta;
Presunçosos: Os que têm a pretensão de estar somente em comunicações com espíritos superiores;
Orgulhosos: Os que se envaidecem com as comunicações recebidas e acham que não tem mais nada a aprender no espiritismo;
Suscetíveis: Aborrecem-se com críticas às suas comunicações, chocam-se com a menor das observações e se afastam das reuniões em que não podem se impuser ou dominar;
Mercenários: Os que exploram suas faculdades mediúnicas;
Ambiciosos: Os médiuns que, mesmo sem vender suas faculdades, esperam obter com elas outras vantagens;
De má fé: Médiuns que tendo algum tipo de mediunidade simulam outras que não tem, devida a uma suposta maior importância;
Ciumentos: Os que encaram com despeito os médiuns mais considerados que eles e que lhes são momentaneamente mais adiantados;
Sérios: Os que utilizam suas faculdades para o bem e finalidades úteis;
Modestos: Os que não se atribuem nenhum mérito pelas comunicações recebidas e não se julgam livres de mistificações;
Devotos: Compreendem que têm uma missão a cumprir e devem, quando necessário, sacrificar seus gostos, hábitos, prazeres, seu tempo e até mesmo seus interesses materiais em favor dos outros;
Seguros: Médiuns que além do trabalho mediúnico merecem a maior confiança em virtude de seu caráter e da natureza elevada dos espíritos que os assistem, sendo, portanto, menos expostos a serem enganados;
Experimentados: Médiuns com ampla experiência mediúnica e voltados ao estudo sério; cientes de todas as dificuldades que se apresentam na prática do espiritismo.
Bibliografia
OLIVEIRA, José Henrique Motta de. Das Macumbas à Umbanda: uma análise histórica da construção de uma religião brasileira, 2008. 1º ed. Limeira, SP: Editora do Conhecimento.
VIEIRA, Valdo; XAVIER, Francisco Cândido. Mecanismos da Mediunidade, 2000. 4º ed. Rio de Janeiro, F.E.B.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.