sábado, 17 de julho de 2021

"Fim do mundo" e "retorno de Jesus"

   Quase toda sociedade brasileira sabe alguma coisa sobre certas idéias proféticas que são ensinadas na Seara cristã, inclusive grande parte do mundo tem o mesmo conhecimento.

    Sobre isto, uns entendem mais, outros menos, mas podemos perceber que existe propostas dogmáticas de que Jesus retornará à Terra nos "fins dos tempos" e, antes disso, haverá certos sinais (ou profecias" bíblicas). 

    É curioso notar que todas os três maiores conjuntos religiosos do mundo falam sobre isso: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. 

   O Judaísmo prega a vinda (ainda) do seu Messias, que instalará um Estado Judaico poderoso e uma série de eventos ocorrerão, cujo propósito será implantar um "Governo Divino" na Terra, sob o comando Judaico.

   O Islamismo afirma que Jesus voltará e lutará contra o "Anticristo", contra o mal e destruirá o "paganismo", além de que confirmará ao mundo que o Islã é o caminho verdadeiro (condenando inclusive os cristãos que o adoram como Deus). Também, junto a Jesus, aparecerá a figura do que os muçulmanos chamam de Mahdi, o Ímã que estabelecerá o Governo Divino pré-apocalíptico.

    Tratarei, neste texto, somente sobre o Cristianismo, que está praticamente inserido na nossa sociedade, cultura e  inconsciente coletivo brasileiros.

   Talvez, alguns possam indagar o porquê de um Sacerdote de Umbanda estar escrevendo sobre um pouquinho da Escatologia do Cristianismo (mais especificamente), mas o fato é que se trata de um assunto conhecido e comentado na sociedade brasileira (e Ocidental), além de que uma das matrizes da Umbanda é o Catolicismo. Logo, o assunto é pertinente e escrevo sobre uma visão - o Axé Ventania - e creio que possa ser importante para o conhecimento dos praticantes da Umbanda.

    O Cristianismo se fundamenta no retorno de Jesus (dessa vez "glorioso"), através, principalmente, de certas passagens da Bíblia:

   

1° sinal: os cristãos seriam odiados, caçados e mortos. 

(Mateus 24:9)


2° sinal: surgimento de falsos cristos. (Mateus 24:5)


3° sinal: muitas guerras e revoluções. (Mateus 24:6)


4° sinal: fome, pestes, terremotos e tsunamis

(Mateus 24:7; Lucas 21:25)


5° sinal: surgimento de falsos profetas e apostasia mundial gradativa da igreja cristã. 

(Mateus 24:11,12; II Tessalonicenses 2:3)


6° sinal: o Evangelho será pregado a todos os seres humanos do mundo. (Mateus 24:14)


7° sinal: surgimento do Anticristo, o qual será o último sinal que precede a Vinda de Jesus Cristo (que o destruirá pessoalmente).

(2 Tessalonicenses 2:3 e 2:8) 


    Atualmente, vivemos num planeta muito avançado tecnologicamente, com um tremendo grau de globalização, rapidez nas notícias e informações sobre quase tudo, produção de alimentos sem precedentes, dependência vital de eletricidade e da informática, em que não conseguimos imaginar nossas vidas sem internet ou nossos celulares, entre tantas coisas.

   Imagine que há pouco mais de um século, andávamos a cavalo e, hoje, existem sondas em Marte, outras nos limites do Sistema Solar! Podemos saber em tempo real o que está acontecendo do outro lado do planeta! Entre tantas outras coisas...

   Porém, ainda somos seres gananciosos, preconceituosos, destruidores da Natureza. Temos um Modo de Produção que é Capitalista, cujo propósito é aumentar a riqueza, mas sempre de uma minoria em detrimento da maioria explorada. Os objetivos são sempre primariamente econômicos, portanto, ainda há muitos que passam fome, não têm saneamento básico, sofrem horrores com regimes ditatoriais, de limpeza étnica, genocídios, guerras, violência e até (pasmem!) escravidão (de mão de obra e sexual).

   Quando os cristãos analisam os acontecimentos do mundo à luz das passagens bíblicas, é quase inevitável que se concluam que "estamos nos fins dos tempos".

   Ora, se estudarmos a história religiosa cristã, percebemos que "estamos no fim dos tempos" desde os tempos de Jesus. Paulo mesmo acreditava que o "retorno de Jesus" era iminente, que ocorreria ainda durante seu tempo de vida. 

   Como nada ocorreu, a "data" foi cada vez mais sendo "deslocada pra frente". Podemos enumerar diversos anúncios de "fim do mundo" ao longo do tempo: quando ocorreu a peste negra que devastou a Europa; nos tempos das invasões Mongóis com Genghis Khan; na virada no primeiro milênio depois de Cristo (ano 1.000); nas Primeira e Segunda Guerras Mundiais; na Guerra Fria; na ascensão do Comunismo Soviético; etc, etc e mais etc.

   Será que realmente estamos nos "fins dos tempos"? Ou será que se trata de uma ideia perene na nossa sociedade, que está sempre nos lábios de, principalmente, Pastores evangélicos?

   "Os cristãos seriam odiados, caçados e mortos". (Mateus 24:9)

   Os cristãos foram, desde o começo, odiados, caçados, torturados, esnobados, excluídos e mortos. Antes do Império Romano permitir e depois oficializar o Cristianismo, a vida para eles não era fácil. Ocorreram perseguições e verdadeiros massacres, mortes desumanas para com eles ao longo da história. E o tempo passou, os cristãos aumentaram, ganharam poder e passaram eles, depois, a atacar e massacrar os outros grupos. Claro que ocorrem perseguições a cristãos no mundo de hoje, principalmente em países de regime ditatorial ou regimes teocráticos, quando não, por grupos religiosos extremistas, mas são casos  de tratamento mais específico e regional

  "Surgimento de falsos cristos".(Mateus 24:5)

   Bem, desde o princípio do Cristianismo, apareceram homens se dizendo "Messias", mas, obviamente, naquele primeiro momento eram mais ligados ao Judaísmo, tais como: Teudas (44-46), revolucionário da Judéia; Menahem ben Judá, revolucionário participante na revolta contra Agripa II; Simão Bar Kobas (morte: 135 d.C.). Depois, com o crescimento cristão, de temos em tempos, alguém se anunciava ser "Jesus", como por exemplo: Jacobina Mentz Maurer (1841 - 1874), brasileira, declarou-se reencarnação de Cristo; Maria Devi Christos (1960), ucraniana, fundadora da "Grande Irmandade Branca"; Álvaro Inri Cristo Thais (1948), Brasil, se diz a reencarnação de Jesus; Sergey Anatol'yevitch Torop (1961), russo, conhecido como Vissarion, obteve sua primeira revelação de que era Jesus quando ocorreu a dissolução da União Soviética e, desde então, reuniu um grupo de 5.000 a 10.000 discípulos na floresta da Sibéria, onde vivem em aldeias com sua própria infraestrutura e sistemas sociais. 

   Portanto, podemos enunciar que sempre houve alguém se intitulando ser "Jesus" e com tremenda convicção e certeza disso, não se trata de algo de hoje em dia

   "Muitas guerras e revoluções". (Mateus 24:6)

   Difícil definir algum momento na história humana em que não houvessem guerras. Desde a Antiguidade, o que mais sabemos dessa época são as conquistas militares. 

   O Império Romano, que aliás, dominava a Palestina nos tempos de Jesus, sempre fez guerras, antes e depois do nascimento do Cristianismo.

   Na Idade Média, nos tempos Modernos e Contemporâneo, a guerra parece que é uma constante, sempre houve alguma nação guerreando com outra.

   Passamos por 3 grandes Revoluções que mudaram radicalmente as sociedades humanas: Revolução Industrial, Revolução Francesa e Revolução Russa (Socialismo). 

   Devemos lembrar que os maiores conflitos da nossa história poderiam ser consideradas a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, que ocorreram do começo a meados do século XX, época muito próxima da atualidade.

    Infelizmente, ainda sofremos com diversos conflitos, golpes, guerrilhas e guerras mundo afora. E sempre há rumores de novas possibilidades de conflitos.

    Concluímos, então, que as guerras sempre foram uma constante na humanidade e, lamentavelmente, ainda ocorrem no presente.

   "Fome, pestes, terremotos e tsunamis" (Mateus 24:7; Lucas 21:25)

   A produção de alimentos nunca alcançou níveis tão altos de produtividade como nos dias atuais. Temos alimento para alimentar o mundo todo! Porém, sabemos que uma quantidade gigantesca de pessoas sofrem de inanição pelo mundo, especialmente na África, uma verdadeira contradição. Na história humana, a fome quase sempre esteve presente em muitas sociedades, com momentos de crise até piores que nos tempos presentes.

   As crises de doenças, pandemias e epidemias, sempre ocorreram, até piores que nos nossos tempos. Como exemplo, temos a Peste Negra, a pandemia mais devastadora registada na história humana, tendo resultado na morte de 75 a 200 milhões de pessoas na Eurásia, atingindo seu pico entre os anos de 1347 e 1351. 

   A Gripe Espanhola, de 1918 até 1920, infectou uma estimativa de 500 milhões de pessoas, cerca de um quarto da população mundial na época. O número de mortes é estimado entre 17 milhões e 50 milhões, e possivelmente até 100 milhões, considerada uma das epidemias mais mortais da história. 

   Terremotos e tsunamis ocorrem desde os princípios do próprio planeta e não é algo inédito ao homem moderno. Temos diversos exemplos de devastacões devido a terremotos e tsunamis no mundo todo.

   É de conhecimento, por exemplo, o grande Sismo de Lisboa, no ano de 1755, que destruiu quase toda a cidade de Lisboa em Portugal.

   "Surgimento de falsos profetas e apostasia mundial gradativa da igreja cristã" (Mateus 24:11,12; 2 Tessalonicenses 2:3)

   Para não nos alongarmos sobre a questão de "falsos cristos" ou "falsos profetas", mais uma vez devemos lembrar que foram uma constante ao longo da história humana.

   A apostasia (afastamento da fé) realmente é uma característica de algumas nações. Curiosamente, as nações mais apóstatas são aquelas consideradas ricas, com alto nível educacional, científico e tecnológico, em que não se encontram mais as necessidades de se encontrar respostas aos fenômenos da Natureza sob uma ótica religiosa e, na maioria dos casos, sem sentido.

   Atualmente, isso ocorre porque em muitos lugares as leis são laicas e permitem o livre pensamento. Desligar-se da religião ou contestá-la, no passado até bem recente, era uma afronta tão severa que a morte era a punição a "esse crime". 

   Considerando-se que o nível de educação do povo, até pouco tempo atrás, era pífio e que era inaceitável e incompreensível a rebeldia contra a Igreja, é natural que poucos o fizessem. Mas, se imaginarmos que, desde o passado cristão, não houvessem restrições severas de liberdade, provavelmente o fenômeno da apostasia já teria acontecido antes. E temos evidências da apostasia desde a época do Iluminismo, que já faz séculos.

   As pessoas não se tornam apóstatas porque estão se tornando "desumanas" ou "cuspindo na Igreja". O Cristianismo atual pode não estar mais respondendo às necessidades dessas pessoas, que seguem outros princípios morais elevados ou religiões e filosofias diferentes.

   E é interessante que as nações consideradas mais apóstatas são as que possuem as pessoas mais bem educadas, com melhores padrões de vida e com senso de liberdade e respeito maiores do que outras nações "cristãs".

   "O Evangelho será pregado a todos os seres humanos do mundo" (Mateus 24:14)

   É improvável, no mundo de hoje, que alguém nunca tenha ouvido falar no Cristianismo, em Jesus ou no Evangelho. Mesmo os países muçulmanos ou as nações asiáticas sabem sobre a existência disso.

   Nas épocas colonial e neo-colonial, os europeus levaram a palavra do Evangelho para os mais diversos lugares mundo afora. Em alguns, a religião cristã foi imposta e tornou-se "a verdade". Em outros lugares, foi rejeitada, principalmente na Ásia.

   Portanto, muito notório que o Cristianismo já seja conhecido no mundo todo.


   "Surgimento do Anticristo, o qual será o último sinal que precede a Vinda de Jesus Cristo (que o destruirá pessoalmente)"

(2 Tessalonicenses 2:3 e 2:8)


   Façamos uma pergunta a nós mesmos: quantos homens já foram considerados o Anticristo? Concluímos que diversos deles e desde um pouco depois da morte de Jesus. 

   Imperadores como Nero ou Calígola foram considerados pelos cristãos como o Anticristo e que já eram os sinais do retorno de Jesus, mesmo naquela época!

   Podemos inserir uma lista de nomes de figuras históricas como "ganhadores" do título de Anticristo: Napoleão, Hitler, Franklin Roosevelt, Stalin e (até) Bill Gates.

   Portanto, a cada época, um homem acaba apontado como Anticristo, mas a vida prossegue...


   Bem, após analisarmos um pouco a questão do "fim dos tempos", segundo as Escrituras Cristãs e o ponto de vista do Axé Ventania, podemos concluir algumas coisas:

   As guerras, as doenças, os massacres, os fenômenos destrutivos da Natureza, a ascensão ao poder de homens cruéis e sanguinários, entre diversos outros acontecimentos, infelizmente, sempre estiveram presentes ao longo de toda a história humana.

   Mas, uma grande diferença existe entre esses acontecimentos no passado e nos tempos de hoje: a divulgação!

   Sim, se "daqui a pouco" ocorrer um tsunami no Oceano Índico, o mundo todo fica sabendo em minutos. Se um massacre ocorre, o mundo todo é noticiado. Tudo pode ser acessado em tempo real nos nossos dias, diferente do passado, em que as notícias eram mais limitadas à sociedade imediata e chegavam de forma muito mais tardias.

   A impressão que temos é que o número de desastres, crimes, guerras e todo tipo de sortilégio está crescendo. Mas, na verdade, é que recebemos as informações deles, de diversas partes, ao mesmo tempo, dando impressão que só desgraças estão acontecendo (e acontecem).

   Sempre houve tudo isso e em várias partes do mundo ao mesmo tempo, mas ninguém ficava sabendo.

   Enfim, não pretendo desmerecer as profecias de "fim do mundo", tampouco atacar o Cristianismo.

   Minha pretensão aqui é demonstrar que não podemos simplesmente acreditar que um ponto de vista religioso é "correto" e o resto do mundo está errado.

   Acho curioso que nas profecias antigas não hajam menções a destruição por meteoros previstos para nossos tempos, pois esta possibilidade é real (até onde eu saiba).

   Devemos entender que muitas mensagens religiosas são figurativas, limitadas à época de quem escreve, não mensagens a serem entendidas ao pé da letra.

   Realmente, as ações do ser humano podem levar a um apocalipse, talvez essa seja a verdadeira mensagem profética: que seremos destruídos por nós mesmos!