quarta-feira, 24 de junho de 2020

2020 - Ano de Pai Xangô


Sabemos que, neste ano de 2020, estamos sob a regência de Pai Xangô e, como todo mundo está vendo, Ele não está "de brincadeira", colocando seus machados e sua balança da justiça pra funcionar.
Desde o fim do ano passado, vivemos uma severa crise por causa do COVID-19, cuja normalização ainda está um pouco longe (considerando hoje quando escrevo).
Agora surgiu uma nuvem de gafanhotos de proporções continentais na região sul da América do Sul. Arrasou as plantações de milho do Paraguai, que já sofre demais por ser um país pobre. Os gafanhotos estão na Argentina e em direção ao Uruguai, pertinho do Brasil. 
O que posso pensar sobre isso tudo é que o ser humano se comporta como se fosse um vírus mortal, um micróbio, um verme,  que devasta, corrói e destrói o próprio Planeta, sua Casa. São grupos de bilionários, grupos empresariais, políticos e até mesmo as baixas classes, corroendo tudo que podem, matando o semelhante, explorando a mão de obra, extorquindo tudo até o limite máximo que alcançam, apenas para conseguir LUCRO (riqueza, dinheiro, ouro, luxo, capital). E lucro NÃO DISTRIBUÍDO, bem diferente do que chamamos de PROSPERIDADE. Precisamos de tudo isso? Ser tão filhos da puta? Reflitam.
1/3 do mundo morre de fome e não tem nem privada pra cagar!!! Outro 1/3 não vive, sobrevive com seus míseros salários que mal podem dar uma estrutura educacional, de saúde e de investimento para seus filhos, tudo porque vivem só para trabalhar, não a si mesmos, mas para enriquecer mais ainda os banqueiros, os políticos malditos e os grandes grupos econômicos mundiais.
Saibam que a produção mundial de alimentos pode dar comida suficiente para alimentar o mundo todo e com SOBRAS!!! Sim, 8 BILHÕES de pessoas poderiam ter fartura de comida, baseado na produção de hoje em dia.
Sem estrutura social, educação, saúde, saneamento, formação profissional, investimento científico e políticas de inserção social, NUNCA o Brasil e a maior parte do mundo chegará a lugar nenhum.
Vivemos num planeta doente, que está de saco cheio e sofrendo, tentando como pode manter-se firme e sobreviver.

Não se investe em Educação!
Não se investe no ser humano!
Não se pensa no futuro!

Tudo é ser o melhor, é ter aparência bonita e comprar tudo, um consumismo de proporções alarmantes! Muitas vezes pra pessoa esnobar, se mostrar, pra se sentir superior, ou esfregar na cara do outro sua própria prepotência.
Tudo pela febre do ouro, do dinheiro, da riqueza e da corrida desenfreada em que parece que nunca se tem o lucro desejado, nunca se satisfaz.
Ganância, prepotência, arrogância, ignorância, preconceito, genocídio, guerra, corrupção... Tudo pra sugar o máximo de dinheiro e luxúria que se pode, como se isso fosse o único propósito da existência nesta Terra.
Destruição da Natureza!
Destruição do Planeta!
Aquecimento Global!
Etc, etc...
Pior que essa rudeza, essa arrogância, essa luxúria e essa corrida desgraçada, não só pelos poderosos, atinge também a população mundial de um modo geral, inclusive os pobres, alimentados com a ilusão.
Sim, o ser humano é culpado, pois nunca aprende a deixar de ser ganancioso e lutar por um mundo mais justo.
Culpa do ser humano!!! Não de um suposto "demônio tentador" como certos ignorantes apregoam por aí.
Como se não bastasse, assistimos de braços abertos uma guerra sem sentido na Síria, uma África morrendo de fome, uma América Latina corrupta, uma China e Índia quase em guerra e um planeta inteiro caído na ignorância.
Não busque o dinheiro pelo dinheiro, porém, busque sim a riqueza, para que possam ter ESTRUTURA FINANCEIRA em que permita a dar educação aos seu filhos, "cobertor ao necessitado", caridade ao próximo e geração de riqueza para toda sua coletividade.
Bom, desculpem-me o desabafo, mas preciso fazer algo, como ser humano. E o que posso fazer é concientizar as pessoas do meu lado, intrui-las no limite que posso...
Por isso, busquem a cada ato, a cada gesto, a cada momento, a cada oportunidade, pregar e agir com GENTILEZA!
Não ache que é melhor que ninguém apenas porque tem um carro novo, um relógio de marca, dinheiro sobrando... Não seja mesquinho, não seja avarento.
Seja criativo e invista na sua família, desenvolva habilidades com suas posses em que cada pessoa do seu lado se espelhe nos seus atos e possam também crescer.
Dê bom dia, boa noite, um cumprimento ao outro desejando DE VERDADE que seja um bom dia, uma boa noite, um cumprimento em que está valorizando de verdade ao próximo. Não apenas sendo formal e agindo de forma mecânica pra apenas poder dizer que "tem educação". 
Veja Deus no próximo!!!
Vamos pensar no nosso mundo, no nosso planeta, pois tudo que plantarmos, colheremos. Estamos recebendo o retorno da Natureza, por toda nossa ignorância, má vontade, egoísmo e luxúria.
Pai Xangô é isso: Quem deve paga, quem merece recebe!
Ensinem seus filhos a amar, sem ser vítima da sociedade. Seja humano, caridoso! Seja JUSTO! Haja com COMPAIXÃO.
Não minta, não engane, não enrole o outro, não seja falso, não traia, não seja filho da puta, apenas porque acha que vai levar alguma vantagem nisso.  Ensine sobre Deus, sem essa castração, ignorância, preconceito e intolerância que certas religiões impõem a um povo ignorante e carente. Quem sabe na próxima geração, nossos filhos e netos sejam melhores do que somos hoje.
Gentileza gera gentileza!!!
Obrigado! Que Oxalá abençoe a todos!!!
E, assim, a macumba continua.

terça-feira, 23 de junho de 2020

Umbanda, uma religião só para médiuns?

Hoje, prezados leitores, trataremos sobre um novo tema: o que é ser umbandista? Será que a Umbanda surgiu apenas para as pessoas que precisam desenvolver a mediunidade e praticar a caridade? Ou é uma opção religiosa para todos, médiuns e leigos - pessoas que frequentam, os consulentes, que por diversas razões não adentram numa Casa, não "vestem o branco".
Primeiramente, precisamos entender que a Umbanda é uma religião "nova", tem pouco mais de 100 anos (baseando-se a partir da sua 'oficialização' por Zélio de Morais) e ainda não se desenvolveu plenamente na matéria. Ainda não se estabeleceu de forma respeitosa na sociedade, de forma que possa ser entendida como opção religiosa de culto a Deus, não tachada de culto demoníaco ou prática de "baixo espiritismo", magia negra. Tal fato, a 'demonizacão', é compartilhado também por outras religiões Afro-brasileiras, infelizmente.
Religiões como Islamismo ou o próprio Cristianismo sofreram também de preconceito e repugna durante muito tempo após suas fundações, até que se estabeleceram e se tornaram "o correto" nas suas determinadas terras. Não pensem, os caros leitores, que a Igreja Cristã no começo foi recebida de braços abertos pela população do Império Romano, muito pelo contrário, foi perseguida. Foram após dois, (talvez) três séculos após Jesus que a religião passou a ser predominante, aceita e sedimentar uma grande estrutura teológica. 
A religião cristã foi vista como demoníaca, ignorante e depreciativa para as pessoas. Muitos dos nossos irmãos cristãos sabem que a Igreja foi perseguida no começo, mas enchergam isso de forma fantasiosa e fora do contexto da época (salvo os que estudam mais a fundo, claro), acreditando que era "obra do demônio contra a verdade de Cristo". Não era bem isso, pois a religião predominante, a Romana (pagã) era socialmente aceita como 'verdade' e os seus fiéis apenas queriam defender o 'certo' frente a uma nova religião que 'pregava o mau'. Parece estranho, eu entendo, mas são fatos, assim foi. O mesmo sofremos nós umbandistas com os ataques contra nossa fé por parte, principalmente, de grupos cristãos, que se dizem os "donos da verdade", que devem destruir a "obra de Satã" (pra eles a Umbanda e as outras religiões Afro-brasileiras).
Bem, compreendida a abordagem, o relativismo religioso, voltemos ao nosso tema propriamente. Pensemos: só é católico aquele que se dedica à vida dentro da instituição Igreja como padre, bispo, freira, etc? Só é evangélico aquele que se torna pastor, presbítero, etc? Claro que não! Cristãos são todos aqueles que seguem o Cristianismo, sejam sacerdotes ou leigos.
O mesmo vale ao fiel da Umbanda.
Ser umbandista é ser seguidor da Umbanda! Não importa se é sacerdote, médium, tabaqueiros ou apenas um leigo. O que diferencia é apenas a opção em "vestir o branco". Isso significa que muitos fiéis optam por entrar a uma Casa e desenvolver suas faculdades mediúnicas, chegando alguns ao Sacerdócio.
Portanto, meus caros, toda aquela gente que vai ao terreiro, que canta, toma seu passe, faz o tratamento espiritual ensinado pelos Guias, é tão umbandista quanto aquela gente que "veste o branco" e trabalha numa Casa. Deixemos o preconceito ao desuso, ao sumiço e assumamos nossa identidade religiosa. É comum muita gente frequentadora da Umbanda se definir como católica, esotérica, espírita e não como umbandista. Tenhamos orgulho da Umbanda, pois é uma religião tão importante quanto qualquer outra, nem melhor nem pior, apenas do seu jeito, agregando almas e ensinando o trajeto rumo a Deus. 
Creio que devemos ter orgulho de ser umbandista, pois é uma religião bela, esplêndida e de uma riqueza quase inesgotável à nossa disposição.
Abordarei, em texto vindouro, o que é praticar Umbanda, como verdadeiro umbandista e temente a Deus.
Que Deus e nosso Pai Oxalá abençoem a todos!!! Muito obrigado!
E, assim, a macumba continua...


















domingo, 14 de junho de 2020

Cores de velas dos Orixás na Umbanda

Bem vindos, caros leitores!
Trataremos, neste texto, das cores simbólicas mais utilizadas para cada Orixá no uso das suas respectivas velas. Vale destacar que, na ausência de qualquer uma delas, utilizamos a vela de cor branca.

       Orixás
  • Oxalá - branco 
  • Yemanjá - azul claro 
  • Oxum - amarelo, rosa
  • Ibeji - 1/2 rosa e 1/2 azul claro
  • Oxumarê - todas, azul celeste
  • Oxóssi - verde
  • Ogum - vermelho, azul marinho
  • Obá - vermelho, magenta 
  • Xangô - marrom, vermelho
  • Iansã - amarelo, laranja
  • Omolu - 1/2 branca e 1/2 preta
  • Nanã - violeta, lilás

Deixarei aqui, também, as cores utilizadas pelas Entidades/Guias.

      Linhas de Trabalho
  • Caboclos - verde
  • Pretos-Velhos - 1/2 branco e 1/2 preto
  • Erês - 1/2 rosa e 1/2 azul claro
  • Baianos - amarelo, laranja 
  • Boiadeiros - 1/2 laranja e 1/2 preto, amarelo, 1/2 amarelo e 1/2 preto,  laranja, marrom
  • Marinheiros - azul claro
  • Ciganos - vermelho, amarelo, laranja, dourado, azul marinho
  • Exu - preto, 1/2 preto e 1/2 vermelho
  • Pombagira - vermelho, 1/2 preto e 1/2 vermelho
  • Mirins - 1/2 preto e 1/2 vermelho

Gostaria de informar que essas são as cores mais destacadas e vibrantes para as práticas de trabalho, porém diversas outras velas podem ser utilizadas, especificamente, conforme as determinações das próprias entidades. Portanto, não dá pra colocar todas as combinações, senão perdemos o foco deste esboço. Para que possamos entender essas peculiaridades, devemos entender que, normalmente, uma entidade costuma se utilizar de sua cor simbólica e depois de cores secundárias ou mais. Por exemplo, é costume um Caboclo de Ogum utilizar velas 1/2 verde e 1/2 vermelha, Caboclo de Iansã pedir velas verde e amarelo, assim sucessivamente.
Muito obrigado! Axé! Que Oxalá abençoe!
E, assim, a macumba continua...





"Este Orixá é da Umbanda?"

Prezados leitores, trago hoje um assunto pra lá de controverso no seio religioso umbandista, que se trata de: 'quais Orixás a Umbanda cultua?'. Muitos se deparam com essa dúvida. Por isso, tentarei, através deste texto, trazer uma breve explicação e uma forma de pensar a respeito, condizente aos fundamentos doutrinários e teológicos do Axé Ventania.
Não estou afirmando que essa forma de pensar seja "a verdade", pois devemos respeitar outras interpretações. Porém, desde que estas outras formas tenham BOM SENSO, LÓGICA e RAZÃO. Falar por falar não é explicar, deve-se ter coerência.
Antes de tudo, queria deixar bem claro a supostos desavisados, que: Candomblé é Candomblé! Umbanda é Umbanda! Duas religiões, duas formas diferentes de entender o conceito de Orixá. A Umbanda não se curva ao Candomblé, o Candomblé não se curva a Umbanda. Nenhuma é maior, melhor ou superior a outra. Isso quer dizer que quem tem autoridade sobre a Umbanda e pode explicar sobre suas maneiras de 'enxergar' os Orixás são os Umbandistas, não outras Religiões.
Por outro lado, devemos entender que Orixás são Divindades de origem africana (mas não restrita aos povos africanos) e o que Eles são em essência, qualidades e atributos não se muda, e sim são estes aspectos apenas reinterpretados. 
Candomblé não é detentor dos Orixás, tampouco a Umbanda! Porém, cada qual no seu espaço. 
Etimologicamente, a palavra "Orixá" significa "Dono do Ori" (Senhor da Cabeça) e, talvez, aqui esteja o ponto máximo de convergência do conceito entre as religiões, o ponto maior de concordância, digamos. Se os leitores quiserem entender o que são Orixás, segundo o Candomblé, peço que pesquisem autores que escrevam sobre o assunto, pois não seria conveniente um sacerdote umbandista "definir" Orixás daquela religião, pois poderia cometer erros.
A Umbanda entende que Orixás são Divindades de Deus, Poderes imanentes e Eternos do próprio Criador. Grosseiramente, seriam as Manifestações de Deus em Si e De Si na Criação - "como Deus chega até nós". São inseparáveis em essência do Criador (no Alto Escalão), porém cada Orixá tem sua abrangência, limitada ao seu conceito (o que "Ele é") e infinito em suas qualidades, atributos e atribuições desse conceito
São Vibrações que se projetam de Deus de forma não antropomórfica, manifestando-se na Natureza e na vida humana. Nas Giras de Umbanda são representados por espíritos de grande evolução ou "seres naturais" dos reinos dos Orixás (haverá explicações sobre isso em postagens posteriores) e que são ligados aos próprios Orixás como "falangeiros", chamando-se a si mesmos como que sendo o próprio  Orixá, muitas vezes; e possuem formas Arquetípicas de se apresentarem (com danças, gestos, gritos e energias próprias).
Para que possamos compreender melhor: na nossa realidade, Deus se manifesta pelos Sete Poderes Maiores (que chamamos de Sete Linhas) e, de cada Poder (Linha), "surgem" (são gerados) diversos Orixás. Não importam quantos, pois isso é irrelevante aqui neste texto. Mas, saibam que os Orixás conhecidos na África eram muitos (entre 400 e 600, dependendo do estudioso).
Entre tantos Orixás vindos da África, muitos foram preservados no Candomblé e alguns na Umbanda. 
No início da Umbanda (antes e também na época de Zélio de Morais e o Caboclo das Sete Encruzilhada) e algumas décadas depois, foram cultuados poucos Orixás na Umbanda, talvez (penso eu), que fosse para que houvesse melhor compreensão e que Eles fossem incorporados de forma gradual e mais sólida na religião, por questão de facilitação do aprendizado dos médiuns e sacerdotes.
A aceitação de "novos" Orixás engatinhou nos anos 1970, evoluiu nos anos 1980 e se solidificou nos anos 1990 até princípios dos anos 2000, segundo minhas pesquisas.
Desse processo de incorporação de cultos a mais Orixás, houve quem contestasse! 
Vários segmentos de Umbanda não aceitaram essa evolução e chamaram isso de "inovação". A crítica fervorosa partiu também dos irmãos do Candomblé, que não aceitavam a incorporação de outros Orixás no culto umbandista, como Oxumarê, Obá, etc. Ouviam-se e ainda se ouvem reclamações do tipo: "Esse Orixá não é da Umbanda"; "Não se cultua Orixá "tal" na Umbanda, se tiver filho Dele, manda procurar o Candomblé"; e assim é ainda.
Segundo o Axé Ventania, cada Orixá se manifesta em uma Linha de Umbanda (ou em duas, com aspectos diferentes) e assim para cada uma delas inúmeros Orixás e Caminhos de Orixás podem ser incorporados. Cada Casa incorpora os seus respectivos Orixás, em números diferentes ou iguais, variando de 7 a 9, 10, 14, etc. Porém algumas questões devem ser levadas em conta:
  • A Tradição da Umbanda baseia-se em Sete Linhas, portanto os Orixás cultuados devem "vibrar" o mais intenso possível em afinidade com o Complexo Energético e Religioso da Umbanda e estarem em total correspondências com as suas respectivas Linhas;
  • Orixás têm Tradição Milenar enraizada desde a África, referente aos seus cultos.  São reinterpretados na Umbanda, não alterados ou descaracterizados. Suas quizilas, suas comidas, suas particularidades mais intrínsecas, não mudam. Por exemplo: Oxóssi tem quizila com mel, isso não muda; comida de Oxalá é canjica, isso não muda; Xangô não cuida de almas no cemitério, isso não muda; e assim vai. 
  • Umbanda aceita e compreende qualidades de Orixás, mas não individualiza culto como princípio religioso. Por exemplo: Oxaguian e Oxalufan são caminhos dos Orixás Fun-fun (Brancos), existem e se diferenciam, mas na Umbanda todos são "Oxalá".
  • Relevância, simplificação e eficácia no agrupamento dos diferentes Oris (cabeças) daqueles que seguem e trabalham na Umbanda, ou seja, trata-se da lógica religiosa na definição de quem cada um é filho. Cada pessoa nasce sob determinadas afinidades, sendo filhos de diversos Orixás, seus "arquétipos" encarnados. Se a Casa cultua 10 Orixás, eles devem abranger essas cabeças, se forem 20, serão mais abrangências, muitas vezes desnecessárias na Umbanda. Por exemplo: há Casas que definem especificamente filhos de Oxóssi, filhos de Ossayn, filhos de Logun-Ede, etc. Porém, numa Casa que só se cultua Oxóssi, todos serão chamados "filhos de Oxóssi", porém não há "defeito", afinal esses Orixás (na Umbanda) vibram fortemente na Linha das Matas, sendo Oxóssi o Orixá mais enraizado e tradicional no culto. 
  • O princípio que a Tradição Umbandista deixou como legado e regra pétrea, desde a outorga do Caboclo das Sete Encruzilhadas: o culto permanente dos Orixás Oxalá, Oxóssi, Xangô, Oxum, Yemanjá, Ogum e Iansã. 
Portanto, mediante esses e outros critérios, cada Casa deve saber sua necessidade, seu entendimento, sua tradição, seu Axé, seu fundamento e seguir o número de Orixás apropriados, com bom senso, lógica e razão. Senão, caímos no axismo e na ignorância, agregando coisas e cultos sem critérios. Não se escolhe Orixás a "deus dará", deve ter fundamento. Uma Casa não nasce do nada, o Sacerdote deve ter sim sua formação pessoal e ser fruto de uma raíz, de um Axé, ainda que tenha suas particularidades.
É importantíssimo estudar, fazer cursos sim, o máximo possível, mas Sacerdotes se formam em "chão de terreiro".
Apenas para finalizar, deixarei aqui os Orixás cultuados no Templo de Umbanda Luz Divina: Oxalá, Oxum, Yemanjá, Oxumarê, Ibeji, Oxóssi, Xangô, Iansã, Obá, Ogum, Omolu (Obaluaiyê)* e Nanã - são 12 Orixás! 
Que Oxalá abençoe a todos!
E, assim, a macumba continua...

* Não entendemos Omolu e Obaluaiyê como 2 Orixás independentes e/ou diferentes; mais detalhes serão abordados  posteriormente.


segunda-feira, 8 de junho de 2020

As múltiplas faces do Rito Umbandista

A Umbanda, como de conhecimento geral, possui grande diversidade de formas doutrinárias e ritualísticas. Isso significa que Cada Terreiro "toca" da sua forma, conforme podemos verificar ao visitarmos um bom número de Casas. Alguns mudam bastante seu jeito de tocar o culto, quando comparados, já entre outros as mudanças são singelas e quase imperceptíveis, muitas vezes.
Por outro lado, percebemos que existe (sim!) uma raiz básica e fundamental para realização do ato religioso, seja onde quer que encontremos uma Gira de Umbanda, e este é o foco deste texto. Bem, caso os caros leitores não conheçam o termo "Gira", ele se refere ao Culto Umbandista - aos procedimentos ritualísticos de abertura, preparação, firmeza de forças e poderes, orações e cantos (os chamados 'Pontos Cantados').
As ritualísticas que colocarei aqui aos leitores são as de práticas unânimes entre as Casas, salvo um caso ou outro.
Escreverei neste texto apenas os atos, sem explicá-los, pois cada qual será abordado em publicação posterior neste blog.
E, como de praxe, fica aqui avisado que não cabe a ninguém julgar o culto alheio, ou se encher de maledicências sobre, propondo tolices sem qualquer conhecimento de causa, apenas porque a Gira de outrem possa ser supostamente diferente daquela por si conhecida ou costumeira.

  • Preceito do Corpo Mediúnico - são as preparações dos médiuns, tabaqueiros (ogãs) e sacerdotes antes da chegada ao terreiro, ou realizadas no próprio local e antes do início da Gira. São elas: Banho de Ervas (ou de Defesa); Firmeza de Anjo de Guarda; Firmeza da Esquerda (ou de Exu); abstinência de sexo, comidas pesadas e álcool.
  • Padê e Saudação a Exu - ato de se oferendar ritualísticamente a Esquerda da Casa, pedindo proteção aos trabalhos. O responsável faz a Comida de Exu e Pombagira (Padê) para ser entregue na Tronqueira do Terreiro (Casa de Exu) antes do início dos trabalhos, também com firmeza de velas e, muitas vezes, se oferecendo as bebidas alcoólicas. É de praxe, após entregar o Padê, se pré-iniciar a Gira cantando e saudando a Esquerda publicamente e, aí sim, se tem o início de quaisquer outros atos.
  • Defumação - defumar é queimar resinas vegetais e/ou ervas secas (e específicas) sobre carvão em brasa dentro de um turíbulo ou recipiente próprio e, assim, todo o ambiente religioso ficar envolvido pela fumaça, que é condutora de Axé Vegetal. Durante a Defumação, entoam-se Pontos Cantados e se faz (normalmente) a Defumação de dentro para fora - até a entrada do Terreiro.
  • Pó de Pemba - é o ato de assoprar pó de Pemba  (ralado e previamente preparado) defronte o Altar, os Atabaques, os cantos do Terreiro, nos médiuns, consulentes, etc, cuja finalidade é "quebrar o ajé" (tirar energias negativas) e proteger a Gira de ataques espirituais. Pode ser apenas com pó de Pemba ou conter mais outros pós junto (por exemplo, canela).
  • Bater Cabeça - quando os médiuns, tabaqueiros e sacerdotes se curvam e se deitam de bruços sobre uma esteira em frente ao Altar do Terreiro, colocando sua testa em solo, digamos, em respeito e reverência dos Orixás e Guias regentes. Além de saudação respeitosa, representa um gesto de humildade, demonstrando que a pessoa está se colocando como instrumento de Deus; e de também receber as forças vibratórias da Casa, reequilibrando os Chacras e desbloqueando entraves energéticos.
  • Oração - nunca ouvi dizer de um Terreiro que não incluísse em sua ritualística um momento (na abertura) para que todos, Corpo Mediúnico e Consulentes, juntos, fizessem uma ou mais orações. O ato simboliza a busca do autoconhecimento e conexão com Deus e o Eu-Superior. É um momento forte de introspecção e reflexão religiosa, promovendo, assim, a elevação do padrão vibratório.
  • Abertura - também conhecida como 'Abertura da Jurema', é quando o(a) Sacerdote outorga a abertura dos trabalhos espirituais, significando que os transes mediúnicos tomarão corpo, as Entidades ou Guias poderão iniciar suas atividades para incorporar. Trata-se de uma espécie de "comando" em que os Guias e Médiuns podem se "fundir". 
  • Fechamento - se houve uma abertura, existe também um "comando" de fechamento, assim que todos os trabalhos se encerraram, as Entidades ou Guias já desincorporaram de seus Médiuns e todos apresentam-se bem dentro do Terreiro. A partir desse momento, não há mais transes mediúnicos, porém alguns Pontos Cantados representando o fechamento podem ocorrer.

 Como havia colocado, esses aspectos são os que quaisquer Terreiro de Umbanda pratica. Contudo, saibam os caros leitores que, obviamente, os detalhes se alternam, os Pontos Cantados podem variar, a ordem de execução nem sempre são exatamente iguais, etc, o que se tratam apenas de especifidades de cada Casa. Obviamente, esses são ritos convergentes, unânimes, mas outros podem existir também. Há Terreiros que borrifam água de colônia nas mãos e cantos do Terreiro, Altar; outros fazem, numa bacia, um pequeno banho de pétalas de rosas, que é oferecido para que cada Médium "lave" sua Coroa Mediúnica e partes importantes do corpo (molhe as mãos e as esfregue nessas partes) e por aí vai. É como eu ouvi não me lembro quando e nem onde:

Umbanda é água
Terreiro é recipiente que molda essa água
Enquanto for água pura é Umbanda
Se a água foi contaminada não é mais.


Que Oxalá abençoe a todos!!!
E assim a macumba continua...
















sexta-feira, 5 de junho de 2020

A questão do sangue animal no Candomblé - Ejé


Primeiramente, saibam os caros leitores que Umbanda não tem como doutrina ou fundamento o uso de sangue animal. Por outro lado, algumas correntes umbandistas, em especial as "Umbandas Traçadas", se utilizam de sacrifício animal.

Quero deixar, neste texto, pequeno esboço do conceito no Candomblé (pedindo licença para falar sobre), cujo uso é legítimo e essencial, deixando para texto vindouro um aprofundamento no que se refere ao "uso do sangue" segundo a Umbanda (vide textos sequenciais no blog).

Todos nós ouvimos falar que o Candomblé faz o uso constante do sangue animal obtido através de sacrifícios em seus trabalhos e oferendas, porém temos o péssimo hábito de criticar a prática sem nos remetermos ao porquê disso.

Originalmente, na África, a caça era um dos meios pela qual as pessoas obtinham sua comida, suas fontes de proteínas, pois não havia açougues, avícolas ou geladeiras; portanto, o homem africano sacrificava o animal e o distribuía entre os membros da aldeia, mas antes serviam aos seus deuses a parte que lhes cabia, como forma de agradecimento ao sustento oferecido pela Natureza.

Em geral, o sacrifício se realizava com a oferta de partes do animal que não seriam utilizadas para a alimentação (via de regra geral), como o sangue; muitas vezes também as patas, as asas, os miúdos, etc. Como essas partes seriam naturalmente dispensadas, sem se agregar qualquer valor religioso, por que não oferecer ao Orixá (Divindade desses povos) que protege e dá vida a todos?

O Judaísmo sempre praticou a oferenda propiciatória, assim como o Hinduísmo e até mesmo o Islamismo, bem como diversas outras religiões no mundo, portanto não se trata de algo exclusivo do povo africano, mas de um conceito religioso de âmbito mundial. 

Hoje, não se praticam mais sacrifícios na religião judaica, até onde se saiba, pois o seu Templo em Jerusalém foi destruído em 77 D.C. pelos romanos e esse era o local dos sacrifícios; a partir daí houve a Diáspora Judaica e o desmembramento do Estado de Israel, reconstruído somente no século XX com ajuda da Inglaterra e outras nações ocidentais.

O Islamismo preserva o sacrifício de animais quando da Peregrinação do fiel a Meca (ao menos uma vez na vida) - O Hajj.

No Cristianismo, não há o sacrifício animal, pois seu maior expoente, Jesus, teve o próprio corpo sacrificado em benefícios de todos que abraçassem a cruz expiatória e manchada com sangue humano, segundo a Teologia Cristã.

O Candomblé prática seus sacrifícios até hoje e graças a isso obtém o Axé para seus atos religiosos, portanto não pratica nenhum mal e sim tem seu fundamento na Tradição das nações africanas que lhe deram origem.

Não devemos julgar os atos religiosos de nossos irmãos do Candomblé porque fazem uso de um elemento de grande poder de realização. O Candomblé é uma religião fundamentada no Ejé (sangue animal) e Ewè (folhas), principalmente, e segue uma Tradição que remonta seus 10.000 anos de existência, segundo muitos, logo o uso do Ejé é corretíssimo nessa religião e nós nunca devemos proferir  palavras agressivas aos seus adeptos, pois isso demonstra falta de conhecimento, caráter, humildade e, acima de tudo, caracteriza preconceito religioso.

Segundo a Tradição Africana, o mundo foi formado através de três grandes forças, ou podemos dizer, formado por três grandes Axés e são eles as bases de tudo o que existe; a manipulação correta esses Axés é base da magia africana e cada Axé tem sua representação na Natureza, sendo eles: 


Axé/Ejé Funfun (Branco)


Axé/Ejé Epô (Vermelho)


Axé/Ejé Dudu (Preto).



Significa que tudo na Criação pertence a um Axé original (ou dois, ou até três, em suas respectivas proporções e predominâncias) que dá as qualidades, essências, naturezas, características, etc a tudo o que existe. 

O Ejé (sangue) animal é um tipo de Axé que promove a vida, segundo as tradições africanas; sem ele nada vive, logo tem seus fundamentos e rituais específicos para utilização. Mas não é só o Ejé Animal que é utilizado, outros também são. 

Creio que o fato de serem utilizados animais para sacrifícios talvez seja o foco de atenção das pessoas desavisadas. Não podemos correr o risco de cair na hipocrisia de que os candomblecistas são “isso ou aquilo”, pois se devem lembrar que diariamente milhões de frangos são mortos, muitos gados são abatidos, entre diversas espécies animais, apenas para suprir a alimentação humana. E são mortos, muitas vezes, de forma brutal e violenta! 

O sacrifício ritualístico é realizado com respeito, com regras, cantos, rezas, e evitando-se ao máximo qualquer tipo de maus tratos. O animal sacrificado, ao contrário do que se pensa, “dormirá” sob influência de rezas e cantos e, em troca de seu “sacrifício”, acredita-se que é recompensado pelas divindades (sua parte espiritual); ainda servirá de alimento para os presentes no ato religioso ou por outros. Literalmente, servirá como comida (maioria dos casos)!

Segue, abaixo, um modelo simplificado de tipos de Axés/Ejés:





Reino Animal

Reino Vegetal

Reino Mineral

Ejé Funfun

Sêmen, saliva, líquido de igbin (caracol), secreções;

Seiva de plantas, otim (bebida) branca, flores brancas, sumos brancos, ori (gordura vegetal);

Água, prata, chumbo, giz, cal, sal, chuva, pedras brancas leitosas, estanho, efun (argila branca);

        Ejé Epô

Sangue

Azeite-de-dendê, mel, osun, pétalas e sumos amarelos, laranjas e vermelhos;

Cobre, bronze, pedras avermelhadas, amareladas, alaranjadas, ferro, níquel, ouro;

        Ejé Dudu

Cinzas de animais ou de ossos;

Sumos escuros de plantas; carvão, fumo, farinha de mandioca;

Carvão Mineral;



* Perdoem-me os irmãos candomblecistas se cometi algum erro na definição; gentileza se comunicar que retificarei.

     Portanto, caros leitores, todas as práticas de sacrifícios religiosos executados pelo Candomblé possuem base, fundamentação, lógica e tradição. Cabe a todos o respeito, buscando o conhecimento antes da crítica infundada. 
    O uso (no Candomblé) é lícito sob a ótica divina e possui todo seu bojo conceitual alicerçado pelo conhecimento religioso e milenar africano.
   Aos desavisados, há toda uma lógica para o corte, que obviamente não serei eu que abrirei esse conhecimento aqui, pois é tão importante que deve ser preservado e não banalizado, para se evitar o incentivo ao uso sem prévio conhecimento e reconhecimento pelos Orixás, obtido pela Feitura de Santo e Merecimento.
    Só para entenderem o quão profundo é o conhecimento do corte, há relações diretas com o fluxo dos vasos sanguíneos das áreas abatidas, o fluxo cardio-respiratório, os pulmões e os órgãos vitais, bem como a conceitos de Orun-Ayie, Céu-Terra, Sagrado-Profano, Espírito-Matéria...
     Muito obrigado a todos!
     Motumbá!!!



Bibliografia 



OGBEBARA, Awofa. Igbadu: A cabaça da existência, 2006. 2º ed. Rio de Janeiro: Pallas.


SILVA, Vagner Gonçalves. Candomblé e Umbanda: caminhos da devoção brasileira, 2005 2º ed. São Paulo: Selo Negro.


CARNEIRO, Edison. Candomblés da Bahia, 2002. 9º ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.


OLIVEIRA, José Henrique Motta de. Das Macumbas à Umbanda: uma análise histórica da construção de uma religião brasileira, 2008. 1º ed. Limeira, SP: Editora do Conhecimento.


RODRIGUES, Nina. Os africanos no Brasil, 2004. 8º ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília.


RAMOS, Artur. O Negro Brasileiro, 2001. 5º ed. Rio de Janeiro: Graphia.


ASSUNÇÃO, Luiz. O reino dos mestres: a tradição da jurema na umbanda nordestina, 2006. Rio de Janeiro, Pallas.


REVISTA DAS RELIGIÕES: Coleção Divindades Afro-Brasileiras, volume II. São Paulo, Editora Abril.


PRESTES, Miriam. Umbanda: Crença, Saber e Prática, 2004. 2º ed. Rio de Janeiro, Pallas.


CIDO DE OSÙN EYIN, Pai. Candomblé: a panela do segredo, 2008. São Paulo, Saraiva.


Oficialização da Umbanda como religião - A História de Zélio de Moraes e o Caboclo das Sete Encruzilhadas


Escrever sobre Umbanda sem citarmos Zélio Fernandino de Moraes é praticamente impossível. Ele, assim como Allan Kardec, foi um dos intermediários escolhidos pelos espíritos para divulgar a religião aos homens. 

Fiz um texto resumo abaixo com minhas palavras, porém baseadas em consultas em sites e livros diversos, por isso não tem bibliografia. Caso algum leitor identifique algum erro, pode me corresponder; obrigado e boa leitura.

Zélio Fernandino de Moraes nasceu no dia 10 de abril de 1891, no distrito de Neves, município de São Gonçalo - Rio de Janeiro. Aos dezessete anos, quando estava se preparando para servir as Forças Armadas através da Marinha, aconteceu um fato curioso: começou a falar em tom manso e com um sotaque diferente da sua região, parecendo um senhor com bastante idade.

A princípio, a família achou que houvesse algum distúrbio mental e o encaminhou ao seu tio, Dr. Epaminondas de Moraes, Diretor do Hospício de Vargem. Após alguns dias de observação e não encontrando os seus sintomas em nenhuma literatura médica, sugeriu à família que o encaminhassem a um padre para que fosse feito um ritual de exorcismo, pois desconfiava que seu sobrinho estivesse possuído pelo demônio. Procuraram, então, também um padre da família que após fazer ritual de exorcismo não conseguiu nenhum resultado.

Tempos depois Zélio foi acometido por uma estranha paralisia, para o qual os médicos não conseguiram encontrar a cura. Passado algum tempo, num ato surpreendente Zélio ergueu-se do seu leito e declarou: "Amanhã estarei curado". No dia seguinte começou a andar como se nada tivesse acontecido. Nenhum médico soube explicar como se deu a sua recuperação. Sua mãe, D. Leonor de Moraes, levou Zélio a uma curandeira chamada D. Cândida, figura conhecida na região onde morava e que incorporava o espírito de um preto velho chamado Tio Antônio.

Tio Antônio recebeu o rapaz e fazendo as suas rezas lhe disse que possuía o fenômeno da mediunidade e deveria trabalhar com a caridade. O Pai de Zélio de Moraes, Sr. Joaquim Fernandino Costa, apesar de não freqüentar nenhum centro espírita , já era um adepto do espiritismo, praticante do hábito da leitura de literatura espírita . No dia 15 de novembro de 1908, por sugestão de um amigo de seu pai, Zélio foi levado a Federação Espírita de Niterói. 

Chegando na Federação e  convidados por José de Souza, dirigente daquela Instituição, sentaram-se à mesa. Logo em seguida, contrariando as normas do culto realizado, Zélio levantou-se e disse que ali faltava uma flor. Foi até o jardim apanhou uma rosa branca e colocou-a no centro da mesa onde realizava-se o trabalho.

Tendo-se iniciado uma estranha confusão no local, ele incorporou um espírito e simultaneamente diversos médiuns presentes apresentaram incorporações de caboclos e pretos velhos. Advertidos pelo dirigente do trabalho, a entidade incorporada no rapaz perguntou:

Por que repelem a presença dos citados espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens? Seria por causa de suas origens sociais e da cor?"

Após um vidente ver a luz que o espírito irradiava perguntou:

Por que o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, são claramente atrasados? 

Por que fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuíta e a sua veste branca reflete uma aura de luz? E qual o seu nome meu irmão?"

Ele responde:

Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã estarei na casa deste aparelho, para dar início a um culto em que estes pretos e índios poderão dar sua mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem saber meu nome que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim."

O vidente ainda pergunta:

Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto?

Novamente ele responde;

Colocarei uma condessa em cada colina que atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei."

Depois de algum tempo todos ficaram sabendo que o jesuíta que o médium verificou pelos resquícios de sua veste no espírito, em sua última encarnação foi o Padre Gabriel Malagrida.

No dia 16 de novembro de 1908, na rua Floriano Peixoto, 30 · Neves · São Gonçalo · RJ, aproximando-se das 20:00 horas, estavam presentes os membros da Federação Espírita , parentes, amigos e vizinhos e do lado de fora uma multidão de desconhecidos. Pontualmente às 20:00 horas o Caboclo das Sete Encruzilhadas desceu e usando as seguintes palavras iniciou o culto:

Aqui inicia-se um novo culto em que os espíritos de pretos velhos africanos, que haviam sido escravos e que desencarnaram não encontram campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase que exclusivamente para os trabalhos de feitiçaria, e os índios nativos da nossa terra, poderão trabalhar em benefícios dos seus irmãos encarnados, qualquer que seja a cor, raça, credo ou posição social. A prática da caridade no sentido do amor fraterno será a característica principal deste culto, que tem base no Evangelho de Jesus e como mestre supremo Cristo.

Após estabelecer as normas que seriam utilizadas no culto e com sessões diárias das 20:00 às 22:00 horas, determinou que os participantes deveriam estar vestidos de branco e o atendimento a todos seria gratuito. Disse também que estava nascendo uma nova religião e que chamaria Umbanda. O grupo que acabara de ser fundado recebeu o nome de Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade e o Caboclo das Sete Encruzilhadas disse as seguintes palavras:

"Assim como Maria acolhe em seus braços o filho, a tenda acolherá aos que a ela recorrerem as horas de aflição; todas as entidades serão ouvidas, e nós aprenderemos com aqueles espíritos que souberem mais e ensinaremos aqueles que souberem menos e a nenhum viraremos as costas e nem diremos não, pois esta é a vontade do Pai".

Ainda respondeu perguntas de sacerdotes que ali se encontravam em latim e alemão. Caboclo foi atender um paralítico, fazendo este ficar curado. Passou a atender outras pessoas que havia neste local, praticando suas curas. Nesse mesmo dia incorporou um preto velho chamado Pai Antônio, aquele que, com fala mansa, foi confundido como loucura de seu aparelho e com palavras de muita sabedoria e humildade e com timidez aparente, recusava-se a sentar-se junto com os presentes à mesa dizendo as seguintes palavras: "- Nêgo num senta não meu sinhô, nêgo fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nêgo deve arrespeitá". Após insistência dos presentes fala:

Num carece preocupá não. Nêgo fica no toco que é lugá di nêgo".

Assim, continuou dizendo outras palavras representando a sua humildade. Uma pessoa na reunião pergunta se ele sentia falta de alguma coisa que tinha deixado na terra e ele responde:

Minha caximba, nêgo qué o pito que deixou no toco. Manda mureque buscá".

Tal afirmativa deixou os presentes perplexos, os quais estavam presenciando a solicitação do primeiro elemento de trabalho para esta religião. Foi Pai Antonio também a primeira entidade a solicitar uma guia, até hoje usadas pelos membros da Tenda e carinhosamente chamada de"Guia de Pai Antonio".

No outro dia formou-se verdadeira romaria em frente a casa da família Moraes. Cegos, paralíticos e médiuns que eram dado como loucos foram curados. A partir destes fatos fundou-se a Corrente Astral de Umbanda. Após algum tempo manifestou-se um espírito com o nome de Orixá Malé, este responsável por desmanchar trabalhos de baixa magia, espírito que, quando em demanda era agitado e sábio destruindo as energias maléficas dos que lhe procuravam.

Dez anos depois, em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, recebendo ordens do astral, fundou sete tendas para a propagação da Umbanda, sendo elas as seguintes:


  • Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia

  • Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição

  • Tenda Espírita Santa Bárbara

  • Tenda Espírita São Pedro

  • Tenda Espírita Oxalá

  • Tenda Espírita São Jorge

  • Tenda Espírita São Jerônimo


As sete linhas que foram ditadas para a formação da Umbanda são: Oxalá, Iemanjá, Ogum, Iansã, Xangô, Oxossi e Exu. Enquanto Zélio estava encarnado, foram fundadas mais de 10.000 tendas a partir das acima mencionadas. Zélio nunca usou como profissão a mediunidade, sempre trabalhou para sustentar sua família e muitas vezes manter os templos que o Caboclo fundou, além das pessoas que se hospedavam em sua casa para os tratamentos espirituais, que segundo o que dizem parecia um albergue. Nunca aceitar a ajuda monetária de ninguém era ordem do seu guia chefe, apesar de inúmeras vezes isto ser oferecido a ele. O ritual sempre foi simples.

Nunca foi permitido sacrifícios de animais. Não utilizavam atabaques ou qualquer outros objetos e adereços. Os atabaques começaram a ser usados com o passar do tempo por algumas das Tendas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, mas a Tenda Nossa Senhora da Piedade não utiliza em seu ritual até hoje. As guias usadas eram apenas as determinadas pelas entidades que se manifestavam. A preparação dos médiuns era feita através de banhos de ervas e do ritual do Amaci, isto é, a lavagem de cabeça onde os filhos de Umbanda fazem a ligação com a vibração dos seus guias.

Basicamente, é isso!

Assim, a macumba continua...

terça-feira, 2 de junho de 2020

Umbanda ou "Umbandas"?


 
Durante meus anos de Sacerdócio, aprendi que muitos fiéis ou frequentadores da Umbanda se deparam com algumas diferenças entre os Terreiros, sejam elas  pequenas ou gritantes.
Alguns perguntam o porquê disso, outros já atacam e criticam, simplesmente menosprezando o diferente daquilo que aprenderam ou conheceram.
Só para exemplificar, vejam como um simples detalhe pode gerar diversas conclusões - suponhamos que uma pessoa vá num certo terreiro de Umbanda e se depare com uma vela acesa pra Pai Ogum na cor azul escuro: alguns acharão um absurdo, pois aprenderam que deve ser vermelho; outros acharão interessante e buscarão saber o porquê; outro grupo dirá que é absurdo Umbanda acender vela azul escuro porque é a cor de Ogum no Candomblé; e por aí vai.
Imaginem então, caros leitores, quando mais detalhes são comparados, como formas ritualísticas, fundamentação, pontos cantados, cor de velas, ervas, procedimentos de culto, etc! 
Daí nos perguntamos: Por que os Terreiros são tão diferentes, enquanto outros são mais parecidos? Quem está certo nisso?
Bem, para entendermos tudo isso, devemos compreender como surgiu a Umbanda e quais os processos históricos pelos quais a religião passou. 
E, saibam os leitores, que apesar dessas diferenças de "como fazer", um conjunto básico de litúrgias e de fundamentação existe sim, tais como a Defumação, a Pemba, o ritual do Amaci, as Linhas Espirituais, etc.
Bem, a Umbanda é o resultado de um processo sincrético, um amálgama, bricolagem de quatro pilares religiosos: Catolicismo, Espiritismo, Candomblé e Pajelança.
Conforme as religiões da Jurema e os Cultos de Nação se formaram, em muitos deles baixavam antigos espíritos de Índios, Caboclos e Negros Africanos, que caracterizariam, no futuro, as Linhas de trabalho de Umbanda com suas particularidades. Oficialmente, houve a manifestação do Caboclo das 7 Encruzilhadas no médium Zélio de Morais em 15 de novembro de 1908, data do "nascimento da Umbanda"; caboclo este que passou os detalhes da "nova religião" que se chamaria Umbanda (pesquisem sobre isso).
Com o passar dos anos, a Umbanda de Zélio de Morais germinou em outras Casas, surgidas ao longo das gerações e existentes até hoje.
Porém, outras Casas com fundamentações diferentes também foram surgindo rincões do Brasil afora, sob a luz da Umbanda do Caboclo das 7 Encruzilhadas e influências do Candomblé ou do Omoloko.
Com a massificação religiosa, surgiu a necessidade de se "explicar" a Umbanda e muitos médiuns e sacerdotes, na ausência ou escassez de explicações teológicas umbandistas, buscaram nos Candomblés ou no Espiritismo suas bases teológicas.
Como a Umbanda é por si mesma sincrética e absorvedora de fontes religiosas diversas, até o fim dos anos 1980 e início dos anos 1990, já não se identificavam mais as diversas origens de seus ritos e práticas.
Víamos que um bojo imenso de formas de praticar Umbanda haviam; ou seja, existiam (assim como hoje) diversas "Umbandas" e cada qual se auto afirmando como a "verdadeira". Resumidamente (e, claro, bem grosseiramente), a Umbanda é um corpo religioso em que cada Casa se situa mais perto ou mais longe do Candomblé ou do Espiritismo.
Importante, caros leitores, não é julgar ou atacar o diferente, mas buscar entender qual dessas formas melhor serve para cada um, pois uma Casa pode ser a melhor para algumas pessoas e não representar nada para outras, e vice-versa. Nunca ache que o "diferente" não presta! Pois pode ser o melhor para outros, que acharão que a Umbanda que você goste é que "não preste".
Desde que não se encomendem e aceitem trabalhos de maldade e cobranças de dinheiro, mas se pratique e ensine caridade e princípios éticos e morais de elevação espiritual, baseados nos ensinamentos evangélicos de Jesus e outros Mestres, já teremos muito do que é a Umbanda.
Deixarei aqui nesta apresentação uma breve descrição de algumas "correntes umbandistas", cuja classificação nada mais é do que uma forma didática, afinal não existe uma divisão precisa para essa finalidade. E espero, mais uma vez, ter conseguido levar um pouco de conhecimento a todos!


   Tipos de Umbanda

    
  • Umbanda Tradicional 🡺 Aquela oriunda de Zélio Fernandino de Moraes sob a luz do Caboclo das Sete Encruzilhadas, quando as manifestações mediúnicas de Pretos-Velhos e Caboclos passaram a ser reconhecidas oficialmente como Umbanda. Não usa sangue animal.


  • Umbanda Popular 🡺 Forma de Umbanda praticada pela maior parte dos adeptos da Religião, com base nos ensinamentos da Umbanda Tradicional, porém com sincretismos católicos muito fortes e adaptações diversas segundo a orientação e conhecimento dos dirigentes; não se enquadram aqui as ritualísticas com o uso de sangue animal.


  • Umbanda Traçada 🡺 Pode ser considerada um tipo de Umbanda Popular que contém seus fundamentos arraigados às tradições dos Cultos de Nação e faz uso ritualístico do sangue animal. É comum se encontrar, no mesmo terreiro, dias específicos para Gira de atendimento com entidades de Umbanda e dias para realização do Xirê (culto do Candomblé).


  • Umbanda Omolocô 🡺 Manifestações mediúnicas de espíritos de Umbanda com fundamentos trazidos pelo Tatá Tancredo da Silva Pinto da nação Luanda-Quioco em Angola na década de 1940, porém sem ligação com o Candomblé de Angola e da própria Umbanda Tradicional.


  • Umbanda de Caboclos 🡺 Tipo de Umbanda que tem seus fundamentos principais no forte sincretismo indígena e na manifestação mais arraigada dos Caboclos e os cultos de Jurema (herança da Pajelança).


  • Umbanda Branca 🡺 Derivada principalmente da Umbanda Tradicional e com suas vertentes voltadas ao estudo e práticas do Kardecismo; não se usam geralmente instrumentos musicais e quase nunca se trabalham com Exus e Pombagiras, sendo o maior foco nos Caboclos e Preto-Velhos sob orientação exclusivamente kardecista.


  • Umbanda Esotérica 🡺 Traz em sua bagagem inicial a Umbanda Tradicional de Zélio de Moraes, porém com fundamentos baseados no conhecimento holístico e nos ensinamentos de W. W. da Matta e Silva; tem nos Caboclos, Preto-Velhos e Erês suas entidades de maior força, além de sintetizar e classificar as forças espirituais em Sete Vibrações somente, não necessariamente com Orixás herdados da África (Yori e Yorimá): Oxalá, Oxóssi, Xangô, Ogum, Yori, Yorimá e Yemanjá.


  • Umbanda Iniciática 🡺 Derivada da Umbanda Esotérica e fundamentada nos ensinamentos de Mestre Rivas Neto, com diversos elementos religiosos e filosóficos do Oriente. Segue a classificação das forças espirituais de Matta e Silva em Sete Vibrações e prega que todo conhecimento humano das vertentes religiosas, filosóficas, artísticas e científicas são partes de um todo, que formariam o Aumbhandan, entendido como síntese do Tudo; há entonação de mantras nas suas práticas e aprofundamento no conhecimento holístico e ocultista.

  • Umbanda Sagrada - Segue a Umbanda Tradicional de Zélio de Moraes e os ensinamentos trazidos pela espiritualidade através do Mestre Rubens Saraceni, classificando e explicando os trabalhos espirituais em seus diversos livros através da compreensão dos Mistérios das Sete Linhas de Umbanda, que são: Fé (Oxalá e Oyá), Amor (Oxum e Oxumarê), Conhecimento (Oxóssi e Obá), Justiça (Xangô e Egunitá), Lei (Ogum e Iansã), Evolução (Obaluaê e Nanã) e Geração (Iemanjá e Omulu).





Bibliografia 



PRANDI, Reginaldo. Encantaria Brasileira, 2004. 1º ed. Rio de Janeiro: Pallas.


ASSUNÇÃO, Luiz. O reino dos mestres: a tradição da jurema na umbanda nordestina, 2006. Rio de Janeiro: Pallas.


OLIVEIRA, José Henrique Motta de. Das Macumbas à Umbanda: uma análise histórica da construção de uma religião brasileira, 2008. 1º ed. Limeira, SP: Editora do Conhecimento.


SILVA, Vagner Gonçalves. Candomblé e Umbanda: caminhos da devoção brasileira, 2005 2º ed. São Paulo: Selo Negro.


CARNEIRO, Edison. Candomblés da Bahia, 2002. 9º ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.