quarta-feira, 24 de junho de 2020
2020 - Ano de Pai Xangô
terça-feira, 23 de junho de 2020
Umbanda, uma religião só para médiuns?
domingo, 14 de junho de 2020
Cores de velas dos Orixás na Umbanda
- Oxalá - branco
- Yemanjá - azul claro
- Oxum - amarelo, rosa
- Ibeji - 1/2 rosa e 1/2 azul claro
- Oxumarê - todas, azul celeste
- Oxóssi - verde
- Ogum - vermelho, azul marinho
- Obá - vermelho, magenta
- Xangô - marrom, vermelho
- Iansã - amarelo, laranja
- Omolu - 1/2 branca e 1/2 preta
- Nanã - violeta, lilás
- Caboclos - verde
- Pretos-Velhos - 1/2 branco e 1/2 preto
- Erês - 1/2 rosa e 1/2 azul claro
- Baianos - amarelo, laranja
- Boiadeiros - 1/2 laranja e 1/2 preto, amarelo, 1/2 amarelo e 1/2 preto, laranja, marrom
- Marinheiros - azul claro
- Ciganos - vermelho, amarelo, laranja, dourado, azul marinho
- Exu - preto, 1/2 preto e 1/2 vermelho
- Pombagira - vermelho, 1/2 preto e 1/2 vermelho
- Mirins - 1/2 preto e 1/2 vermelho
"Este Orixá é da Umbanda?"
- A Tradição da Umbanda baseia-se em Sete Linhas, portanto os Orixás cultuados devem "vibrar" o mais intenso possível em afinidade com o Complexo Energético e Religioso da Umbanda e estarem em total correspondências com as suas respectivas Linhas;
- Orixás têm Tradição Milenar enraizada desde a África, referente aos seus cultos. São reinterpretados na Umbanda, não alterados ou descaracterizados. Suas quizilas, suas comidas, suas particularidades mais intrínsecas, não mudam. Por exemplo: Oxóssi tem quizila com mel, isso não muda; comida de Oxalá é canjica, isso não muda; Xangô não cuida de almas no cemitério, isso não muda; e assim vai.
- Umbanda aceita e compreende qualidades de Orixás, mas não individualiza culto como princípio religioso. Por exemplo: Oxaguian e Oxalufan são caminhos dos Orixás Fun-fun (Brancos), existem e se diferenciam, mas na Umbanda todos são "Oxalá".
- Relevância, simplificação e eficácia no agrupamento dos diferentes Oris (cabeças) daqueles que seguem e trabalham na Umbanda, ou seja, trata-se da lógica religiosa na definição de quem cada um é filho. Cada pessoa nasce sob determinadas afinidades, sendo filhos de diversos Orixás, seus "arquétipos" encarnados. Se a Casa cultua 10 Orixás, eles devem abranger essas cabeças, se forem 20, serão mais abrangências, muitas vezes desnecessárias na Umbanda. Por exemplo: há Casas que definem especificamente filhos de Oxóssi, filhos de Ossayn, filhos de Logun-Ede, etc. Porém, numa Casa que só se cultua Oxóssi, todos serão chamados "filhos de Oxóssi", porém não há "defeito", afinal esses Orixás (na Umbanda) vibram fortemente na Linha das Matas, sendo Oxóssi o Orixá mais enraizado e tradicional no culto.
- O princípio que a Tradição Umbandista deixou como legado e regra pétrea, desde a outorga do Caboclo das Sete Encruzilhadas: o culto permanente dos Orixás Oxalá, Oxóssi, Xangô, Oxum, Yemanjá, Ogum e Iansã.
* Não entendemos Omolu e Obaluaiyê como 2 Orixás independentes e/ou diferentes; mais detalhes serão abordados posteriormente.
segunda-feira, 8 de junho de 2020
As múltiplas faces do Rito Umbandista
- Preceito do Corpo Mediúnico - são as preparações dos médiuns, tabaqueiros (ogãs) e sacerdotes antes da chegada ao terreiro, ou realizadas no próprio local e antes do início da Gira. São elas: Banho de Ervas (ou de Defesa); Firmeza de Anjo de Guarda; Firmeza da Esquerda (ou de Exu); abstinência de sexo, comidas pesadas e álcool.
- Padê e Saudação a Exu - ato de se oferendar ritualísticamente a Esquerda da Casa, pedindo proteção aos trabalhos. O responsável faz a Comida de Exu e Pombagira (Padê) para ser entregue na Tronqueira do Terreiro (Casa de Exu) antes do início dos trabalhos, também com firmeza de velas e, muitas vezes, se oferecendo as bebidas alcoólicas. É de praxe, após entregar o Padê, se pré-iniciar a Gira cantando e saudando a Esquerda publicamente e, aí sim, se tem o início de quaisquer outros atos.
- Defumação - defumar é queimar resinas vegetais e/ou ervas secas (e específicas) sobre carvão em brasa dentro de um turíbulo ou recipiente próprio e, assim, todo o ambiente religioso ficar envolvido pela fumaça, que é condutora de Axé Vegetal. Durante a Defumação, entoam-se Pontos Cantados e se faz (normalmente) a Defumação de dentro para fora - até a entrada do Terreiro.
- Pó de Pemba - é o ato de assoprar pó de Pemba (ralado e previamente preparado) defronte o Altar, os Atabaques, os cantos do Terreiro, nos médiuns, consulentes, etc, cuja finalidade é "quebrar o ajé" (tirar energias negativas) e proteger a Gira de ataques espirituais. Pode ser apenas com pó de Pemba ou conter mais outros pós junto (por exemplo, canela).
- Bater Cabeça - quando os médiuns, tabaqueiros e sacerdotes se curvam e se deitam de bruços sobre uma esteira em frente ao Altar do Terreiro, colocando sua testa em solo, digamos, em respeito e reverência dos Orixás e Guias regentes. Além de saudação respeitosa, representa um gesto de humildade, demonstrando que a pessoa está se colocando como instrumento de Deus; e de também receber as forças vibratórias da Casa, reequilibrando os Chacras e desbloqueando entraves energéticos.
- Oração - nunca ouvi dizer de um Terreiro que não incluísse em sua ritualística um momento (na abertura) para que todos, Corpo Mediúnico e Consulentes, juntos, fizessem uma ou mais orações. O ato simboliza a busca do autoconhecimento e conexão com Deus e o Eu-Superior. É um momento forte de introspecção e reflexão religiosa, promovendo, assim, a elevação do padrão vibratório.
- Abertura - também conhecida como 'Abertura da Jurema', é quando o(a) Sacerdote outorga a abertura dos trabalhos espirituais, significando que os transes mediúnicos tomarão corpo, as Entidades ou Guias poderão iniciar suas atividades para incorporar. Trata-se de uma espécie de "comando" em que os Guias e Médiuns podem se "fundir".
- Fechamento - se houve uma abertura, existe também um "comando" de fechamento, assim que todos os trabalhos se encerraram, as Entidades ou Guias já desincorporaram de seus Médiuns e todos apresentam-se bem dentro do Terreiro. A partir desse momento, não há mais transes mediúnicos, porém alguns Pontos Cantados representando o fechamento podem ocorrer.
sexta-feira, 5 de junho de 2020
A questão do sangue animal no Candomblé - Ejé
Primeiramente, saibam os caros leitores que Umbanda não tem como doutrina ou fundamento o uso de sangue animal. Por outro lado, algumas correntes umbandistas, em especial as "Umbandas Traçadas", se utilizam de sacrifício animal.
Quero deixar, neste texto, pequeno esboço do conceito no Candomblé (pedindo licença para falar sobre), cujo uso é legítimo e essencial, deixando para texto vindouro um aprofundamento no que se refere ao "uso do sangue" segundo a Umbanda (vide textos sequenciais no blog).
Todos nós ouvimos falar que o Candomblé faz o uso constante do sangue animal obtido através de sacrifícios em seus trabalhos e oferendas, porém temos o péssimo hábito de criticar a prática sem nos remetermos ao porquê disso.
Originalmente, na África, a caça era um dos meios pela qual as pessoas obtinham sua comida, suas fontes de proteínas, pois não havia açougues, avícolas ou geladeiras; portanto, o homem africano sacrificava o animal e o distribuía entre os membros da aldeia, mas antes serviam aos seus deuses a parte que lhes cabia, como forma de agradecimento ao sustento oferecido pela Natureza.
Em geral, o sacrifício se realizava com a oferta de partes do animal que não seriam utilizadas para a alimentação (via de regra geral), como o sangue; muitas vezes também as patas, as asas, os miúdos, etc. Como essas partes seriam naturalmente dispensadas, sem se agregar qualquer valor religioso, por que não oferecer ao Orixá (Divindade desses povos) que protege e dá vida a todos?
O Judaísmo sempre praticou a oferenda propiciatória, assim como o Hinduísmo e até mesmo o Islamismo, bem como diversas outras religiões no mundo, portanto não se trata de algo exclusivo do povo africano, mas de um conceito religioso de âmbito mundial.
Hoje, não se praticam mais sacrifícios na religião judaica, até onde se saiba, pois o seu Templo em Jerusalém foi destruído em 77 D.C. pelos romanos e esse era o local dos sacrifícios; a partir daí houve a Diáspora Judaica e o desmembramento do Estado de Israel, reconstruído somente no século XX com ajuda da Inglaterra e outras nações ocidentais.
O Islamismo preserva o sacrifício de animais quando da Peregrinação do fiel a Meca (ao menos uma vez na vida) - O Hajj.
No Cristianismo, não há o sacrifício animal, pois seu maior expoente, Jesus, teve o próprio corpo sacrificado em benefícios de todos que abraçassem a cruz expiatória e manchada com sangue humano, segundo a Teologia Cristã.
O Candomblé prática seus sacrifícios até hoje e graças a isso obtém o Axé para seus atos religiosos, portanto não pratica nenhum mal e sim tem seu fundamento na Tradição das nações africanas que lhe deram origem.
Não devemos julgar os atos religiosos de nossos irmãos do Candomblé porque fazem uso de um elemento de grande poder de realização. O Candomblé é uma religião fundamentada no Ejé (sangue animal) e Ewè (folhas), principalmente, e segue uma Tradição que remonta seus 10.000 anos de existência, segundo muitos, logo o uso do Ejé é corretíssimo nessa religião e nós nunca devemos proferir palavras agressivas aos seus adeptos, pois isso demonstra falta de conhecimento, caráter, humildade e, acima de tudo, caracteriza preconceito religioso.
Segundo a Tradição Africana, o mundo foi formado através de três grandes forças, ou podemos dizer, formado por três grandes Axés e são eles as bases de tudo o que existe; a manipulação correta esses Axés é base da magia africana e cada Axé tem sua representação na Natureza, sendo eles:
Axé/Ejé Funfun (Branco)
Axé/Ejé Epô (Vermelho)
Axé/Ejé Dudu (Preto).
Significa que tudo na Criação pertence a um Axé original (ou dois, ou até três, em suas respectivas proporções e predominâncias) que dá as qualidades, essências, naturezas, características, etc a tudo o que existe.
O Ejé (sangue) animal é um tipo de Axé que promove a vida, segundo as tradições africanas; sem ele nada vive, logo tem seus fundamentos e rituais específicos para utilização. Mas não é só o Ejé Animal que é utilizado, outros também são.
Creio que o fato de serem utilizados animais para sacrifícios talvez seja o foco de atenção das pessoas desavisadas. Não podemos correr o risco de cair na hipocrisia de que os candomblecistas são “isso ou aquilo”, pois se devem lembrar que diariamente milhões de frangos são mortos, muitos gados são abatidos, entre diversas espécies animais, apenas para suprir a alimentação humana. E são mortos, muitas vezes, de forma brutal e violenta!
O sacrifício ritualístico é realizado com respeito, com regras, cantos, rezas, e evitando-se ao máximo qualquer tipo de maus tratos. O animal sacrificado, ao contrário do que se pensa, “dormirá” sob influência de rezas e cantos e, em troca de seu “sacrifício”, acredita-se que é recompensado pelas divindades (sua parte espiritual); ainda servirá de alimento para os presentes no ato religioso ou por outros. Literalmente, servirá como comida (maioria dos casos)!
Segue, abaixo, um modelo simplificado de tipos de Axés/Ejés:
Reino Animal | Reino Vegetal | Reino Mineral | |
Ejé Funfun | Sêmen, saliva, líquido de igbin (caracol), secreções; | Seiva de plantas, otim (bebida) branca, flores brancas, sumos brancos, ori (gordura vegetal); | Água, prata, chumbo, giz, cal, sal, chuva, pedras brancas leitosas, estanho, efun (argila branca); |
Ejé Epô | Sangue | Azeite-de-dendê, mel, osun, pétalas e sumos amarelos, laranjas e vermelhos; | Cobre, bronze, pedras avermelhadas, amareladas, alaranjadas, ferro, níquel, ouro; |
Ejé Dudu | Cinzas de animais ou de ossos; | Sumos escuros de plantas; carvão, fumo, farinha de mandioca; | Carvão Mineral; |
* Perdoem-me os irmãos candomblecistas se cometi algum erro na definição; gentileza se comunicar que retificarei.
Bibliografia
OGBEBARA, Awofa. Igbadu: A cabaça da existência, 2006. 2º ed. Rio de Janeiro: Pallas.
SILVA, Vagner Gonçalves. Candomblé e Umbanda: caminhos da devoção brasileira, 2005 2º ed. São Paulo: Selo Negro.
CARNEIRO, Edison. Candomblés da Bahia, 2002. 9º ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
OLIVEIRA, José Henrique Motta de. Das Macumbas à Umbanda: uma análise histórica da construção de uma religião brasileira, 2008. 1º ed. Limeira, SP: Editora do Conhecimento.
RODRIGUES, Nina. Os africanos no Brasil, 2004. 8º ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília.
RAMOS, Artur. O Negro Brasileiro, 2001. 5º ed. Rio de Janeiro: Graphia.
ASSUNÇÃO, Luiz. O reino dos mestres: a tradição da jurema na umbanda nordestina, 2006. Rio de Janeiro, Pallas.
REVISTA DAS RELIGIÕES: Coleção Divindades Afro-Brasileiras, volume II. São Paulo, Editora Abril.
PRESTES, Miriam. Umbanda: Crença, Saber e Prática, 2004. 2º ed. Rio de Janeiro, Pallas.
CIDO DE OSÙN EYIN, Pai. Candomblé: a panela do segredo, 2008. São Paulo, Saraiva.
Oficialização da Umbanda como religião - A História de Zélio de Moraes e o Caboclo das Sete Encruzilhadas
Escrever sobre Umbanda sem citarmos Zélio Fernandino de Moraes é praticamente impossível. Ele, assim como Allan Kardec, foi um dos intermediários escolhidos pelos espíritos para divulgar a religião aos homens.
Fiz um texto resumo abaixo com minhas palavras, porém baseadas em consultas em sites e livros diversos, por isso não tem bibliografia. Caso algum leitor identifique algum erro, pode me corresponder; obrigado e boa leitura.
Zélio Fernandino de Moraes nasceu no dia 10 de abril de 1891, no distrito de Neves, município de São Gonçalo - Rio de Janeiro. Aos dezessete anos, quando estava se preparando para servir as Forças Armadas através da Marinha, aconteceu um fato curioso: começou a falar em tom manso e com um sotaque diferente da sua região, parecendo um senhor com bastante idade.
A princípio, a família achou que houvesse algum distúrbio mental e o encaminhou ao seu tio, Dr. Epaminondas de Moraes, Diretor do Hospício de Vargem. Após alguns dias de observação e não encontrando os seus sintomas em nenhuma literatura médica, sugeriu à família que o encaminhassem a um padre para que fosse feito um ritual de exorcismo, pois desconfiava que seu sobrinho estivesse possuído pelo demônio. Procuraram, então, também um padre da família que após fazer ritual de exorcismo não conseguiu nenhum resultado.
Tempos depois Zélio foi acometido por uma estranha paralisia, para o qual os médicos não conseguiram encontrar a cura. Passado algum tempo, num ato surpreendente Zélio ergueu-se do seu leito e declarou: "Amanhã estarei curado". No dia seguinte começou a andar como se nada tivesse acontecido. Nenhum médico soube explicar como se deu a sua recuperação. Sua mãe, D. Leonor de Moraes, levou Zélio a uma curandeira chamada D. Cândida, figura conhecida na região onde morava e que incorporava o espírito de um preto velho chamado Tio Antônio.
Tio Antônio recebeu o rapaz e fazendo as suas rezas lhe disse que possuía o fenômeno da mediunidade e deveria trabalhar com a caridade. O Pai de Zélio de Moraes, Sr. Joaquim Fernandino Costa, apesar de não freqüentar nenhum centro espírita , já era um adepto do espiritismo, praticante do hábito da leitura de literatura espírita . No dia 15 de novembro de 1908, por sugestão de um amigo de seu pai, Zélio foi levado a Federação Espírita de Niterói.
Chegando na Federação e convidados por José de Souza, dirigente daquela Instituição, sentaram-se à mesa. Logo em seguida, contrariando as normas do culto realizado, Zélio levantou-se e disse que ali faltava uma flor. Foi até o jardim apanhou uma rosa branca e colocou-a no centro da mesa onde realizava-se o trabalho.
Tendo-se iniciado uma estranha confusão no local, ele incorporou um espírito e simultaneamente diversos médiuns presentes apresentaram incorporações de caboclos e pretos velhos. Advertidos pelo dirigente do trabalho, a entidade incorporada no rapaz perguntou:
Por que repelem a presença dos citados espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens? Seria por causa de suas origens sociais e da cor?"
Após um vidente ver a luz que o espírito irradiava perguntou:
Por que o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, são claramente atrasados?
Por que fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuíta e a sua veste branca reflete uma aura de luz? E qual o seu nome meu irmão?"
Ele responde:
Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã estarei na casa deste aparelho, para dar início a um culto em que estes pretos e índios poderão dar sua mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem saber meu nome que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim."
O vidente ainda pergunta:
Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto?
Novamente ele responde;
Colocarei uma condessa em cada colina que atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei."
Depois de algum tempo todos ficaram sabendo que o jesuíta que o médium verificou pelos resquícios de sua veste no espírito, em sua última encarnação foi o Padre Gabriel Malagrida.
No dia 16 de novembro de 1908, na rua Floriano Peixoto, 30 · Neves · São Gonçalo · RJ, aproximando-se das 20:00 horas, estavam presentes os membros da Federação Espírita , parentes, amigos e vizinhos e do lado de fora uma multidão de desconhecidos. Pontualmente às 20:00 horas o Caboclo das Sete Encruzilhadas desceu e usando as seguintes palavras iniciou o culto:
Aqui inicia-se um novo culto em que os espíritos de pretos velhos africanos, que haviam sido escravos e que desencarnaram não encontram campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase que exclusivamente para os trabalhos de feitiçaria, e os índios nativos da nossa terra, poderão trabalhar em benefícios dos seus irmãos encarnados, qualquer que seja a cor, raça, credo ou posição social. A prática da caridade no sentido do amor fraterno será a característica principal deste culto, que tem base no Evangelho de Jesus e como mestre supremo Cristo.
Após estabelecer as normas que seriam utilizadas no culto e com sessões diárias das 20:00 às 22:00 horas, determinou que os participantes deveriam estar vestidos de branco e o atendimento a todos seria gratuito. Disse também que estava nascendo uma nova religião e que chamaria Umbanda. O grupo que acabara de ser fundado recebeu o nome de Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade e o Caboclo das Sete Encruzilhadas disse as seguintes palavras:
"Assim como Maria acolhe em seus braços o filho, a tenda acolherá aos que a ela recorrerem as horas de aflição; todas as entidades serão ouvidas, e nós aprenderemos com aqueles espíritos que souberem mais e ensinaremos aqueles que souberem menos e a nenhum viraremos as costas e nem diremos não, pois esta é a vontade do Pai".
Ainda respondeu perguntas de sacerdotes que ali se encontravam em latim e alemão. Caboclo foi atender um paralítico, fazendo este ficar curado. Passou a atender outras pessoas que havia neste local, praticando suas curas. Nesse mesmo dia incorporou um preto velho chamado Pai Antônio, aquele que, com fala mansa, foi confundido como loucura de seu aparelho e com palavras de muita sabedoria e humildade e com timidez aparente, recusava-se a sentar-se junto com os presentes à mesa dizendo as seguintes palavras: "- Nêgo num senta não meu sinhô, nêgo fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nêgo deve arrespeitá". Após insistência dos presentes fala:
Num carece preocupá não. Nêgo fica no toco que é lugá di nêgo".
Assim, continuou dizendo outras palavras representando a sua humildade. Uma pessoa na reunião pergunta se ele sentia falta de alguma coisa que tinha deixado na terra e ele responde:
Minha caximba, nêgo qué o pito que deixou no toco. Manda mureque buscá".
Tal afirmativa deixou os presentes perplexos, os quais estavam presenciando a solicitação do primeiro elemento de trabalho para esta religião. Foi Pai Antonio também a primeira entidade a solicitar uma guia, até hoje usadas pelos membros da Tenda e carinhosamente chamada de"Guia de Pai Antonio".
No outro dia formou-se verdadeira romaria em frente a casa da família Moraes. Cegos, paralíticos e médiuns que eram dado como loucos foram curados. A partir destes fatos fundou-se a Corrente Astral de Umbanda. Após algum tempo manifestou-se um espírito com o nome de Orixá Malé, este responsável por desmanchar trabalhos de baixa magia, espírito que, quando em demanda era agitado e sábio destruindo as energias maléficas dos que lhe procuravam.
Dez anos depois, em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, recebendo ordens do astral, fundou sete tendas para a propagação da Umbanda, sendo elas as seguintes:
Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia
Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição
Tenda Espírita Santa Bárbara
Tenda Espírita São Pedro
Tenda Espírita Oxalá
Tenda Espírita São Jorge
Tenda Espírita São Jerônimo
As sete linhas que foram ditadas para a formação da Umbanda são: Oxalá, Iemanjá, Ogum, Iansã, Xangô, Oxossi e Exu. Enquanto Zélio estava encarnado, foram fundadas mais de 10.000 tendas a partir das acima mencionadas. Zélio nunca usou como profissão a mediunidade, sempre trabalhou para sustentar sua família e muitas vezes manter os templos que o Caboclo fundou, além das pessoas que se hospedavam em sua casa para os tratamentos espirituais, que segundo o que dizem parecia um albergue. Nunca aceitar a ajuda monetária de ninguém era ordem do seu guia chefe, apesar de inúmeras vezes isto ser oferecido a ele. O ritual sempre foi simples.
Nunca foi permitido sacrifícios de animais. Não utilizavam atabaques ou qualquer outros objetos e adereços. Os atabaques começaram a ser usados com o passar do tempo por algumas das Tendas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, mas a Tenda Nossa Senhora da Piedade não utiliza em seu ritual até hoje. As guias usadas eram apenas as determinadas pelas entidades que se manifestavam. A preparação dos médiuns era feita através de banhos de ervas e do ritual do Amaci, isto é, a lavagem de cabeça onde os filhos de Umbanda fazem a ligação com a vibração dos seus guias.
Basicamente, é isso!
Assim, a macumba continua...
terça-feira, 2 de junho de 2020
Umbanda ou "Umbandas"?
Umbanda Tradicional 🡺 Aquela oriunda de Zélio Fernandino de Moraes sob a luz do Caboclo das Sete Encruzilhadas, quando as manifestações mediúnicas de Pretos-Velhos e Caboclos passaram a ser reconhecidas oficialmente como Umbanda. Não usa sangue animal.
Umbanda Popular 🡺 Forma de Umbanda praticada pela maior parte dos adeptos da Religião, com base nos ensinamentos da Umbanda Tradicional, porém com sincretismos católicos muito fortes e adaptações diversas segundo a orientação e conhecimento dos dirigentes; não se enquadram aqui as ritualísticas com o uso de sangue animal.
Umbanda Traçada 🡺 Pode ser considerada um tipo de Umbanda Popular que contém seus fundamentos arraigados às tradições dos Cultos de Nação e faz uso ritualístico do sangue animal. É comum se encontrar, no mesmo terreiro, dias específicos para Gira de atendimento com entidades de Umbanda e dias para realização do Xirê (culto do Candomblé).
Umbanda Omolocô 🡺 Manifestações mediúnicas de espíritos de Umbanda com fundamentos trazidos pelo Tatá Tancredo da Silva Pinto da nação Luanda-Quioco em Angola na década de 1940, porém sem ligação com o Candomblé de Angola e da própria Umbanda Tradicional.
Umbanda de Caboclos 🡺 Tipo de Umbanda que tem seus fundamentos principais no forte sincretismo indígena e na manifestação mais arraigada dos Caboclos e os cultos de Jurema (herança da Pajelança).
Umbanda Branca 🡺 Derivada principalmente da Umbanda Tradicional e com suas vertentes voltadas ao estudo e práticas do Kardecismo; não se usam geralmente instrumentos musicais e quase nunca se trabalham com Exus e Pombagiras, sendo o maior foco nos Caboclos e Preto-Velhos sob orientação exclusivamente kardecista.
Umbanda Esotérica 🡺 Traz em sua bagagem inicial a Umbanda Tradicional de Zélio de Moraes, porém com fundamentos baseados no conhecimento holístico e nos ensinamentos de W. W. da Matta e Silva; tem nos Caboclos, Preto-Velhos e Erês suas entidades de maior força, além de sintetizar e classificar as forças espirituais em Sete Vibrações somente, não necessariamente com Orixás herdados da África (Yori e Yorimá): Oxalá, Oxóssi, Xangô, Ogum, Yori, Yorimá e Yemanjá.
Umbanda Iniciática 🡺 Derivada da Umbanda Esotérica e fundamentada nos ensinamentos de Mestre Rivas Neto, com diversos elementos religiosos e filosóficos do Oriente. Segue a classificação das forças espirituais de Matta e Silva em Sete Vibrações e prega que todo conhecimento humano das vertentes religiosas, filosóficas, artísticas e científicas são partes de um todo, que formariam o Aumbhandan, entendido como síntese do Tudo; há entonação de mantras nas suas práticas e aprofundamento no conhecimento holístico e ocultista.
Umbanda Sagrada - Segue a Umbanda Tradicional de Zélio de Moraes e os ensinamentos trazidos pela espiritualidade através do Mestre Rubens Saraceni, classificando e explicando os trabalhos espirituais em seus diversos livros através da compreensão dos Mistérios das Sete Linhas de Umbanda, que são: Fé (Oxalá e Oyá), Amor (Oxum e Oxumarê), Conhecimento (Oxóssi e Obá), Justiça (Xangô e Egunitá), Lei (Ogum e Iansã), Evolução (Obaluaê e Nanã) e Geração (Iemanjá e Omulu).
Bibliografia
PRANDI, Reginaldo. Encantaria Brasileira, 2004. 1º ed. Rio de Janeiro: Pallas.
ASSUNÇÃO, Luiz. O reino dos mestres: a tradição da jurema na umbanda nordestina, 2006. Rio de Janeiro: Pallas.
OLIVEIRA, José Henrique Motta de. Das Macumbas à Umbanda: uma análise histórica da construção de uma religião brasileira, 2008. 1º ed. Limeira, SP: Editora do Conhecimento.
SILVA, Vagner Gonçalves. Candomblé e Umbanda: caminhos da devoção brasileira, 2005 2º ed. São Paulo: Selo Negro.
CARNEIRO, Edison. Candomblés da Bahia, 2002. 9º ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
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Quase toda sociedade brasileira sabe alguma coisa sobre certas idéias proféticas que são ensinadas na Seara cristã, inclusive grande part...
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