sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Sobre a formação da Umbanda como religião brasileira

 O propósito ao qual foi proposta a reflexão, refere-se a uma indução para que vocês comecem a expandir a mente sobre a natureza real do que é ser umbandista e suas relações com os demais cultos existentes em solo brasileiro e alguns outros países da América. E nunca se esqueçam que o Brasil é praticante "um continente" de tão grande que é nosso país, ocupa metade da América do Sul!

Devemos sair do "buraco exclusivista" religioso que naturalmente tendemos a nos alienar, abominando tudo aquilo que é diferente do que aprendemos e convivemos. A Umbanda não é e nunca foi uma religião igual a "essa" que cada um conheceu e segue. A Umbanda é maior que isso e pode ser comparada a um novelo de "teia de aranha", onde não dá mais pra buscar a linha que te leva para o "meio" do novelo, para onde tudo começou a acontecer, pois isso não existe. Obviamente, encontramos sim ancestralidade de rituais, práticas, crenças e podemos identificar bem os cultos originais que deram origem a grande parte da Umbanda. 

Existe na Umbanda um "Mito de Origem" em Zélio de Morais e o Caboclo das Sete Encruzilhadas, porém é o que é: um mito de origem! A Umbanda não nasceu assim. Segundo meu entendimento, foi oficializada e reconhecida em 1908. 

Com a disseminação das crenças africanas e a fundação das antigas Casas de Candomblé de todas as "Nações", bem como de cultos como o Terecô no Maranhão, o Tambor de Mina no Pará (se não me engano),a Cabula no Espírito Santo, as "Macumbas" Cariocas, os Batuques do Rio Grande do Sul, a Umbanda de Almas e Angola de Santa Catarina, o Catimbó do Nordeste, além de influências kardecistas e católicas populares, além das pajelanças de várias nações indígenas, todo um arcabouço sincrético entre as divindades dessas religiões aconteceu, surgindo assim a introdução em toda parte de Espíritos Ancestrais Brasileiros, que apresentavam-se com arquétipos de Pretos-Velhos, Caboclos, Erês, Baianos, etc. 

E o trabalho dessas Entidades passou a ser introduzido gradativamente e com características próprias, que acabaram convergindo a um modo de trabalho espírita tipicamente brasileiro, chamado Umbanda. Dentro desse processo de assimilação, Exus e Pombagiras foram adentrando nos cultos, mostrando seu jeito de ser e identificando-se com nomes "de guerra" diferentes daqueles que outrora eram usados na África pela Divindade Exu Africana, nascendo assim uma dissociação entre o que era Yoruba e o que é agora Exu e Pombagira no Brasil. Associação ancestral e campos de atuação iguais, mas agora formas de culto e de rituais diferentes, pois não são os mesmos "espíritos". Assim como houve uma apropriação na forma dos cultos negros e indígenas com um novo jeito brasileiro das Entidades de Direita e Esquerda, ocorreu também essa reinterpretacão dos Orixás, que tornaram-se o "primeiro escalão" na Umbanda. O Ogum, a Iansã, o Oxalá, etc, da Umbanda, não são mais os correspondentes Africanos. Tínhamos, na África, Orixás com suas Qualidades e seus Caminhos, seus Cultos e suas formas ritualísticas; temos na Umbanda uma nova visão sobre eles, surgindo assim, por exemplo, a Iansã dos Raios, Xangô das Cachoeiras, Ogum Iara, etc. A essência é a mesma, obviamente, e isso não pode nunca mudar! Não foram mudados os Orixás, foram reinterpretados e esse é o limite. 

Portanto, vamos expandir nossas visões, nossas mentes, e não enxergar no outro "o erro" e na nossa Casa "o certo". Se um processo sincrético, reinterpretativo e de bricolagem aconteceu nos mais variados cantos de nosso país, originando as "Umbandas", quem somos nós para concluir que a Umbanda praticada na nossa região geográfica é a "certa" e as outras estão "erradas". Enfim, conheçamos todas as fantásticas manifestações religiosas brasileiras com a mente aberta, assim como reconheçamos que a Umbanda é um Movimento Religioso Brasileiro típico, porém cada Axé reconhecido como parte legítima do seu processo histórico, cultural e geográfico de formação. Axé!!!

sábado, 25 de setembro de 2021

Orixás e seus "defeitos de caráter"

   Caro leitor, já percebeu que costumamos ouvir ou, até mesmo comentarmos, que, se tal pessoa é isso, é porque é filho de tal Orixá? Fulano é aquilo, porque tem aquele Orixá? 

   Parece até que "ter certo Orixá" no Ori significa manifestar defeitos de caráter que supostamente originam-se neles e são eles os culpados pelas falhas e fraquezas dos seus filhos. 

   Quem nunca ouviu coisas do tipo: essa é manhosa, só podia ser de Oxum mesmo; esse cara é briguento porque carrega Ogum; a fofoqueira alí é filha de Yemanjá; a rancorosa é filha de Nanã; a teimosia desse cara é por causa de seu Pai Oxalá; entre tantas coisas absurdas.

    Porém, se repararmos, realmente filhos de determinados Orixás manifestam certos defeitos mesmo. Claro, de forma genérica, pois a Coroa de um filho não é exatamente a mesma de outros filhos do mesmo Orixá.

   Ora, então o que acontece? Realmente temos certos defeitos por quê são características reproduzidas por sermos filhos de certos Orixás?

   Cada Orixá é a manifestação imanente e transcendente de determinadas qualidades de Deus, que se reproduzem na realidade humana (nossa realidade).

   Por exemplo, Pai Oxóssi: é o Conhecimento de Deus, infinito nessa qualidade e infinito nos seus atributos; é a prosperidade, a luta, a caça, a busca incessante pelo crescimento e desenvolvimento, é a expansão, entre outras coisas, como o instinto impulsivo, a retórica e a luta pelo melhor.

   Filhos de Oxóssi são conhecidos por serem indecisos, confusos, um tanto vaidosos, quietos até terem a oportunidade de falar (aí falam "mais que a boca"), serem distraídos, desconfiados, acomodados na vida amorosa e, o que chama a atenção, não sabem guardar segredo.

   O problema é que não lembramos (ou em menos vezes o fazemos) de dizer que são inteligentes, discretos, caridosos, rápidos, respeitam opiniões opostas (mesmo sendo insubordinados), habilidosos, sensíveis, dóceis, alegres, educados, serenos, joviais, criativos, artísticos, curiosos, de tendência à beleza física, etc.

   E, assim, podemos identificar o mesmo comportamento para com os demais filhos dos outros Orixás, cada qual com suas particularidades.

   Segundo nossa Teologia, Deus cria cada pessoa, cada ser humano, na essência de um Orixá, que será o predominante eternamente. Depois, pareia outro Orixá para lhe fazer um "casal", completando assim a ANCESTRALIDADE; ou seja, se o primeiro for masculino, o segundo será feminino, e vice-versa.

   Ao longo das dimensões da vida, onde o ser vai evoluindo, ele vai agregando outros Orixás à sua Coroa, formando assim o seu Enredo.

   Chega o momento do espírito evoluir na dimensão humana e, cada vez que o ser encarna (ou reencarna), ele recebe a predominância de um Par de Orixás (um Pai e uma Mãe) e, sequencialmente, um terceiro, quarto, quinto, etc.

   O Orixá regente não é obrigatoriamente o Ancestral! Mas o regente é aquele que vai ser responsável por aquela encarnação especificamente. Isso significa que o Pai ou Mãe Orixá será quem conduzirá o Caminho para aquele espírito evoluir, contribuindo a eliminar os defeitos de caráter que o espírito tem em si - em geral, os aspectos negativos correlacionados ao seu Orixá.

   Quero dizer que o Orixá regente sustentará, vibrará no ser, suas qualidades elevadas para que o ser evolua, abandonando assim as características negativas, promovendo a força espirital para que o ser deixe o lado negativo e manifeste os aspectos bons desse Orixá.

   Caso esse espírito traga uma missão mediúnica na Umbanda, por exemplo, ele manifestará mais intensamente esse Enredo e desenvolverá a sua Trama, ou seja, os Guias Espirituais que atuarão junto ao médium em consonância com seu Enredo.

   Por isso, saiba os leitores, que a evolução espiritual na presente encarnação será muito eficaz e mais abrangente, através do trabalho caritativo e mediúnico.

   Enfim, caros leitores, quando manifestamos muitos defeitos de caráter, significa que eles são nossos defeitos, nossas fraquezas, como espíritos. Os Orixás são a força superior que nos são agregadas para que possamos superar essas características e passemos a vibrar o lado positivo do Orixá.

   Orixá é Essência de Deus, é parte transcendente e imanente de Deus, que manifesta, irradia, rege, vibra e nos alimenta com suas qualidades e atributos, que são positivos.

   Na Umbanda, quem rege os aspectos negativos dos Orixás são os Guardiões (Exu) e Guardiãs (Pombagiras) desses Orixás. Os aspectos negativos, claro, pertencem aos campos dos Orixás, mas como potencial de existência, não como manifestações deles, por isso, Exus e Pombagiras cuidam disso.

   Portanto, nunca devemos associar os defeitos das pessoas nos porquês de serem filhos deste ou daquele Orixá. Os defeitos são nossos, seres humanos! 

   Nossa meta é nós evoluirmos e nós deixarmos de reproduzir nossos aspectos ruins, o que será facilitado através do esforço pessoal, coletivo e com a ajuda incomparável de nossos Pais e Mães Orixás e nossos Guias.

   Nunca culpe seus Orixás pelas suas falhas!

   Que Oxalá abençoe a todos!

sábado, 17 de julho de 2021

"Fim do mundo" e "retorno de Jesus"

   Quase toda sociedade brasileira sabe alguma coisa sobre certas idéias proféticas que são ensinadas na Seara cristã, inclusive grande parte do mundo tem o mesmo conhecimento.

    Sobre isto, uns entendem mais, outros menos, mas podemos perceber que existe propostas dogmáticas de que Jesus retornará à Terra nos "fins dos tempos" e, antes disso, haverá certos sinais (ou profecias" bíblicas). 

    É curioso notar que todas os três maiores conjuntos religiosos do mundo falam sobre isso: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. 

   O Judaísmo prega a vinda (ainda) do seu Messias, que instalará um Estado Judaico poderoso e uma série de eventos ocorrerão, cujo propósito será implantar um "Governo Divino" na Terra, sob o comando Judaico.

   O Islamismo afirma que Jesus voltará e lutará contra o "Anticristo", contra o mal e destruirá o "paganismo", além de que confirmará ao mundo que o Islã é o caminho verdadeiro (condenando inclusive os cristãos que o adoram como Deus). Também, junto a Jesus, aparecerá a figura do que os muçulmanos chamam de Mahdi, o Ímã que estabelecerá o Governo Divino pré-apocalíptico.

    Tratarei, neste texto, somente sobre o Cristianismo, que está praticamente inserido na nossa sociedade, cultura e  inconsciente coletivo brasileiros.

   Talvez, alguns possam indagar o porquê de um Sacerdote de Umbanda estar escrevendo sobre um pouquinho da Escatologia do Cristianismo (mais especificamente), mas o fato é que se trata de um assunto conhecido e comentado na sociedade brasileira (e Ocidental), além de que uma das matrizes da Umbanda é o Catolicismo. Logo, o assunto é pertinente e escrevo sobre uma visão - o Axé Ventania - e creio que possa ser importante para o conhecimento dos praticantes da Umbanda.

    O Cristianismo se fundamenta no retorno de Jesus (dessa vez "glorioso"), através, principalmente, de certas passagens da Bíblia:

   

1° sinal: os cristãos seriam odiados, caçados e mortos. 

(Mateus 24:9)


2° sinal: surgimento de falsos cristos. (Mateus 24:5)


3° sinal: muitas guerras e revoluções. (Mateus 24:6)


4° sinal: fome, pestes, terremotos e tsunamis

(Mateus 24:7; Lucas 21:25)


5° sinal: surgimento de falsos profetas e apostasia mundial gradativa da igreja cristã. 

(Mateus 24:11,12; II Tessalonicenses 2:3)


6° sinal: o Evangelho será pregado a todos os seres humanos do mundo. (Mateus 24:14)


7° sinal: surgimento do Anticristo, o qual será o último sinal que precede a Vinda de Jesus Cristo (que o destruirá pessoalmente).

(2 Tessalonicenses 2:3 e 2:8) 


    Atualmente, vivemos num planeta muito avançado tecnologicamente, com um tremendo grau de globalização, rapidez nas notícias e informações sobre quase tudo, produção de alimentos sem precedentes, dependência vital de eletricidade e da informática, em que não conseguimos imaginar nossas vidas sem internet ou nossos celulares, entre tantas coisas.

   Imagine que há pouco mais de um século, andávamos a cavalo e, hoje, existem sondas em Marte, outras nos limites do Sistema Solar! Podemos saber em tempo real o que está acontecendo do outro lado do planeta! Entre tantas outras coisas...

   Porém, ainda somos seres gananciosos, preconceituosos, destruidores da Natureza. Temos um Modo de Produção que é Capitalista, cujo propósito é aumentar a riqueza, mas sempre de uma minoria em detrimento da maioria explorada. Os objetivos são sempre primariamente econômicos, portanto, ainda há muitos que passam fome, não têm saneamento básico, sofrem horrores com regimes ditatoriais, de limpeza étnica, genocídios, guerras, violência e até (pasmem!) escravidão (de mão de obra e sexual).

   Quando os cristãos analisam os acontecimentos do mundo à luz das passagens bíblicas, é quase inevitável que se concluam que "estamos nos fins dos tempos".

   Ora, se estudarmos a história religiosa cristã, percebemos que "estamos no fim dos tempos" desde os tempos de Jesus. Paulo mesmo acreditava que o "retorno de Jesus" era iminente, que ocorreria ainda durante seu tempo de vida. 

   Como nada ocorreu, a "data" foi cada vez mais sendo "deslocada pra frente". Podemos enumerar diversos anúncios de "fim do mundo" ao longo do tempo: quando ocorreu a peste negra que devastou a Europa; nos tempos das invasões Mongóis com Genghis Khan; na virada no primeiro milênio depois de Cristo (ano 1.000); nas Primeira e Segunda Guerras Mundiais; na Guerra Fria; na ascensão do Comunismo Soviético; etc, etc e mais etc.

   Será que realmente estamos nos "fins dos tempos"? Ou será que se trata de uma ideia perene na nossa sociedade, que está sempre nos lábios de, principalmente, Pastores evangélicos?

   "Os cristãos seriam odiados, caçados e mortos". (Mateus 24:9)

   Os cristãos foram, desde o começo, odiados, caçados, torturados, esnobados, excluídos e mortos. Antes do Império Romano permitir e depois oficializar o Cristianismo, a vida para eles não era fácil. Ocorreram perseguições e verdadeiros massacres, mortes desumanas para com eles ao longo da história. E o tempo passou, os cristãos aumentaram, ganharam poder e passaram eles, depois, a atacar e massacrar os outros grupos. Claro que ocorrem perseguições a cristãos no mundo de hoje, principalmente em países de regime ditatorial ou regimes teocráticos, quando não, por grupos religiosos extremistas, mas são casos  de tratamento mais específico e regional

  "Surgimento de falsos cristos".(Mateus 24:5)

   Bem, desde o princípio do Cristianismo, apareceram homens se dizendo "Messias", mas, obviamente, naquele primeiro momento eram mais ligados ao Judaísmo, tais como: Teudas (44-46), revolucionário da Judéia; Menahem ben Judá, revolucionário participante na revolta contra Agripa II; Simão Bar Kobas (morte: 135 d.C.). Depois, com o crescimento cristão, de temos em tempos, alguém se anunciava ser "Jesus", como por exemplo: Jacobina Mentz Maurer (1841 - 1874), brasileira, declarou-se reencarnação de Cristo; Maria Devi Christos (1960), ucraniana, fundadora da "Grande Irmandade Branca"; Álvaro Inri Cristo Thais (1948), Brasil, se diz a reencarnação de Jesus; Sergey Anatol'yevitch Torop (1961), russo, conhecido como Vissarion, obteve sua primeira revelação de que era Jesus quando ocorreu a dissolução da União Soviética e, desde então, reuniu um grupo de 5.000 a 10.000 discípulos na floresta da Sibéria, onde vivem em aldeias com sua própria infraestrutura e sistemas sociais. 

   Portanto, podemos enunciar que sempre houve alguém se intitulando ser "Jesus" e com tremenda convicção e certeza disso, não se trata de algo de hoje em dia

   "Muitas guerras e revoluções". (Mateus 24:6)

   Difícil definir algum momento na história humana em que não houvessem guerras. Desde a Antiguidade, o que mais sabemos dessa época são as conquistas militares. 

   O Império Romano, que aliás, dominava a Palestina nos tempos de Jesus, sempre fez guerras, antes e depois do nascimento do Cristianismo.

   Na Idade Média, nos tempos Modernos e Contemporâneo, a guerra parece que é uma constante, sempre houve alguma nação guerreando com outra.

   Passamos por 3 grandes Revoluções que mudaram radicalmente as sociedades humanas: Revolução Industrial, Revolução Francesa e Revolução Russa (Socialismo). 

   Devemos lembrar que os maiores conflitos da nossa história poderiam ser consideradas a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, que ocorreram do começo a meados do século XX, época muito próxima da atualidade.

    Infelizmente, ainda sofremos com diversos conflitos, golpes, guerrilhas e guerras mundo afora. E sempre há rumores de novas possibilidades de conflitos.

    Concluímos, então, que as guerras sempre foram uma constante na humanidade e, lamentavelmente, ainda ocorrem no presente.

   "Fome, pestes, terremotos e tsunamis" (Mateus 24:7; Lucas 21:25)

   A produção de alimentos nunca alcançou níveis tão altos de produtividade como nos dias atuais. Temos alimento para alimentar o mundo todo! Porém, sabemos que uma quantidade gigantesca de pessoas sofrem de inanição pelo mundo, especialmente na África, uma verdadeira contradição. Na história humana, a fome quase sempre esteve presente em muitas sociedades, com momentos de crise até piores que nos tempos presentes.

   As crises de doenças, pandemias e epidemias, sempre ocorreram, até piores que nos nossos tempos. Como exemplo, temos a Peste Negra, a pandemia mais devastadora registada na história humana, tendo resultado na morte de 75 a 200 milhões de pessoas na Eurásia, atingindo seu pico entre os anos de 1347 e 1351. 

   A Gripe Espanhola, de 1918 até 1920, infectou uma estimativa de 500 milhões de pessoas, cerca de um quarto da população mundial na época. O número de mortes é estimado entre 17 milhões e 50 milhões, e possivelmente até 100 milhões, considerada uma das epidemias mais mortais da história. 

   Terremotos e tsunamis ocorrem desde os princípios do próprio planeta e não é algo inédito ao homem moderno. Temos diversos exemplos de devastacões devido a terremotos e tsunamis no mundo todo.

   É de conhecimento, por exemplo, o grande Sismo de Lisboa, no ano de 1755, que destruiu quase toda a cidade de Lisboa em Portugal.

   "Surgimento de falsos profetas e apostasia mundial gradativa da igreja cristã" (Mateus 24:11,12; 2 Tessalonicenses 2:3)

   Para não nos alongarmos sobre a questão de "falsos cristos" ou "falsos profetas", mais uma vez devemos lembrar que foram uma constante ao longo da história humana.

   A apostasia (afastamento da fé) realmente é uma característica de algumas nações. Curiosamente, as nações mais apóstatas são aquelas consideradas ricas, com alto nível educacional, científico e tecnológico, em que não se encontram mais as necessidades de se encontrar respostas aos fenômenos da Natureza sob uma ótica religiosa e, na maioria dos casos, sem sentido.

   Atualmente, isso ocorre porque em muitos lugares as leis são laicas e permitem o livre pensamento. Desligar-se da religião ou contestá-la, no passado até bem recente, era uma afronta tão severa que a morte era a punição a "esse crime". 

   Considerando-se que o nível de educação do povo, até pouco tempo atrás, era pífio e que era inaceitável e incompreensível a rebeldia contra a Igreja, é natural que poucos o fizessem. Mas, se imaginarmos que, desde o passado cristão, não houvessem restrições severas de liberdade, provavelmente o fenômeno da apostasia já teria acontecido antes. E temos evidências da apostasia desde a época do Iluminismo, que já faz séculos.

   As pessoas não se tornam apóstatas porque estão se tornando "desumanas" ou "cuspindo na Igreja". O Cristianismo atual pode não estar mais respondendo às necessidades dessas pessoas, que seguem outros princípios morais elevados ou religiões e filosofias diferentes.

   E é interessante que as nações consideradas mais apóstatas são as que possuem as pessoas mais bem educadas, com melhores padrões de vida e com senso de liberdade e respeito maiores do que outras nações "cristãs".

   "O Evangelho será pregado a todos os seres humanos do mundo" (Mateus 24:14)

   É improvável, no mundo de hoje, que alguém nunca tenha ouvido falar no Cristianismo, em Jesus ou no Evangelho. Mesmo os países muçulmanos ou as nações asiáticas sabem sobre a existência disso.

   Nas épocas colonial e neo-colonial, os europeus levaram a palavra do Evangelho para os mais diversos lugares mundo afora. Em alguns, a religião cristã foi imposta e tornou-se "a verdade". Em outros lugares, foi rejeitada, principalmente na Ásia.

   Portanto, muito notório que o Cristianismo já seja conhecido no mundo todo.


   "Surgimento do Anticristo, o qual será o último sinal que precede a Vinda de Jesus Cristo (que o destruirá pessoalmente)"

(2 Tessalonicenses 2:3 e 2:8)


   Façamos uma pergunta a nós mesmos: quantos homens já foram considerados o Anticristo? Concluímos que diversos deles e desde um pouco depois da morte de Jesus. 

   Imperadores como Nero ou Calígola foram considerados pelos cristãos como o Anticristo e que já eram os sinais do retorno de Jesus, mesmo naquela época!

   Podemos inserir uma lista de nomes de figuras históricas como "ganhadores" do título de Anticristo: Napoleão, Hitler, Franklin Roosevelt, Stalin e (até) Bill Gates.

   Portanto, a cada época, um homem acaba apontado como Anticristo, mas a vida prossegue...


   Bem, após analisarmos um pouco a questão do "fim dos tempos", segundo as Escrituras Cristãs e o ponto de vista do Axé Ventania, podemos concluir algumas coisas:

   As guerras, as doenças, os massacres, os fenômenos destrutivos da Natureza, a ascensão ao poder de homens cruéis e sanguinários, entre diversos outros acontecimentos, infelizmente, sempre estiveram presentes ao longo de toda a história humana.

   Mas, uma grande diferença existe entre esses acontecimentos no passado e nos tempos de hoje: a divulgação!

   Sim, se "daqui a pouco" ocorrer um tsunami no Oceano Índico, o mundo todo fica sabendo em minutos. Se um massacre ocorre, o mundo todo é noticiado. Tudo pode ser acessado em tempo real nos nossos dias, diferente do passado, em que as notícias eram mais limitadas à sociedade imediata e chegavam de forma muito mais tardias.

   A impressão que temos é que o número de desastres, crimes, guerras e todo tipo de sortilégio está crescendo. Mas, na verdade, é que recebemos as informações deles, de diversas partes, ao mesmo tempo, dando impressão que só desgraças estão acontecendo (e acontecem).

   Sempre houve tudo isso e em várias partes do mundo ao mesmo tempo, mas ninguém ficava sabendo.

   Enfim, não pretendo desmerecer as profecias de "fim do mundo", tampouco atacar o Cristianismo.

   Minha pretensão aqui é demonstrar que não podemos simplesmente acreditar que um ponto de vista religioso é "correto" e o resto do mundo está errado.

   Acho curioso que nas profecias antigas não hajam menções a destruição por meteoros previstos para nossos tempos, pois esta possibilidade é real (até onde eu saiba).

   Devemos entender que muitas mensagens religiosas são figurativas, limitadas à época de quem escreve, não mensagens a serem entendidas ao pé da letra.

   Realmente, as ações do ser humano podem levar a um apocalipse, talvez essa seja a verdadeira mensagem profética: que seremos destruídos por nós mesmos!


quarta-feira, 30 de junho de 2021

Orixá IBEJI

    Um dos Orixás mais conhecidos do meio religioso Afro-brasileiro e da Umbanda é IBEJI; ou, como costumam chamá-lo, "Cosme e Damião". Por outro lado, paira muito desconhecimento ou desinformação sobre esse magnífico Orixá, muitas vezes identificado (erroneamente) como o mesmo que Erê. Antes de explicar um pouco sobre Ele (ou "Eles"), vejamos os itans (histórias contadas, mitologia).

   Conta um itan que os Ibejis são "filhos de barriga de Iansã e que foram abandonados nas águas, encontrados por Oxum, quem os criou como se fossem filhos seus" (Tradição Oral).

   Outro itan dos povos yorubas diz que: "Os únicos que conseguiram enganar a morte foram duas crianças, os Ibejis. Diziam que, numa época, Iku (Orixá da Morte) decepava a vida das pessoas de uma aldeia, antes da hora de suas mortes. Para solucionar o problema, buscaram ajuda do Oráculo de Ifá, que invocou os Ibejis. Porém, ninguém levou a sério que duas crianças fosse dar fim na carnificina. Os Ibejis tinham um plano para enganar a Morte. Enquanto um deles tocava tambor, o outro convidava Iku a dançar. Iku se encantou com o cortejo dos gêmeos e começou a dançar freneticamente, o que fez com que se desgastasse demais, à exaustão, enquanto os gêmeos revezavam a dança para poderem descansar. Iku desgastou-se tanto que não podia mais continuar sua matança e acabou indo embora da aldeia, deixando todos em paz. Para agradecer o fim da ameaça da morte, os gêmeos foram presenteados com muitos doces e brinquedos pelos aldeões. Essa tradição trazida pela diáspora africana ainda permanece nos tempos atuais" (Tradição Oral).

   IBEJI, na nação Ketu (ou Vunji, nas nações Angola e Congo), é o Orixá "Criança", Divindade da brincadeira e da alegria, associado à infância. Rege a alegria, a inocência e a ingenuidade. Representa tudo que existe de bom, belo e puro. Está sempre presente nos rituais do Candomblé e da Umbanda, assim como Exú. Ambos, se não forem bem cuidados, podem atrapalhar os trabalhos com as suas confusões, travessuras ou brincadeiras infantis, desvirtuando a concentração dos membros de uma "Casa de Santo".

    IBEJI é associado ao princípio da DUALIDADE, por isso rege o Odu 2 (Ejiokô). O número 2 (dualidade) representa a união, a associação, o princípio dos opostos (dia e noite, encima e embaixo, yin e yang, masculino e feminino, etc), o namoro, o casamento, os casais. Apesar de identificarmos IBEJI como "Gêmeos", trata-se de UM Orixá somente, que é entendido como dois irmãos gêmeos, indissociáveis, duas personas de uma única essência, um único ser. Sim, incompreensível, um Mistério de Deus! Por isso, acabou sincretizado com os Santos Católicos Cosme e Damião, que são gêmeos.

   Na Umbanda (a depender da vertente), é integrado às Linhas: das Mães d'Agua; de Oxum; de Yemanjá; de Oxalá; do Amor na Umbanda Sagrada (Oxum e Oxumarê); ou Linha de Yori* na Umbanda Esotérica.

   Ibeji está ligado à beleza, ao arco-íris, às cores, às agregacões, ao reluzente, à beleza, ao ouro, aos caminhos, ao amor, à maternidade, ao afeto, etc. Também está associado às contradições, mas no sentido de que existem, muitas vezes, "dois lados" de uma história e que devemos entender ambos, para agir com Justiça.

   Segundo todos esses aspectos, podemos entender o sentido do itan que conta como os Ibejis "enganaram a morte". Suas qualidades de alegria, renovação, beleza, movimento (danças) e desapego são tudo aquilo que é oposto à morte, à doença, à maldade, a malícia. Ou seja, uma vida próspera, alegre, com amor, doçura, encanto e "inocência", é uma vida que anda, que evolui, e afasta a "morte", a depressão, a doença, a angústia, o amargo. "Morte" no sentido não só restrito (o fim da vida), mas amplo, pois, pior que a morte física é a morte "do espírito" ou a morte "como pessoa", ter uma vida amarga, sem esperança, sem fé e sem amor.

   O dia 27 de setembro é comemorado em homenagem a Cosme e Damião ou IBEJI. Os devotos têm o costume de fazer caruru (comida típica da tradição afro-brasileira) e dar para as crianças nesse dia, bem como distribuir diversos tipos de doces.

   Filhos de Ibeji são pessoas com temperamento infantil, jovialmente inconsequentes. São brincalhões, sorridentes, irrequietos. Muito dependentes nos relacionamentos amorosos e emocionais, podendo ser obstinados e possessivos. Podem, também, apresentar bruscas variações de temperamento e uma certa tendência a simplificar as coisas.

   IBEJI é constantemente confundido com os ERÊS na Umbanda. Bem, é muito evidente que há uma relação entre eles, talvez por ambos serem crianças e terem os atributos infantis.

   Ibeji é um Orixá, uma Divindade de Deus. Erês são Entidades que se manifestam com o Arquétipo de crianças, representando o Orixá Ibeji na Umbanda. E trabalhando, claro, sob sua regência e também na de outros Orixás.


   

domingo, 27 de junho de 2021

Firmeza de "Contra-Ajé"

    A palavra "Ajé", de origem yorubá,  pode ser traduzida aproximadamente com o significado de "Feitiçaria ou Feitiço". Na prática, é o oposto de "Axé", que pode ser traduzido como "Boas Energias, Fortaleza, Poder, Prosperidade ou Bons Agouros". Uma das finalidades de uma Gira de Umbanda, ou Ato Religioso, é que possamos trazer o Axé dos Orixás e das Entidades, para realização religiosa e magística apropriadas, atingindo assim o bem maior, individual e coletivo.

   Realizar uma firmeza de "Contra-Ajé" significa montar um firmamento, ativá-lo e deixá-lo próximo à porta de entrada de rua de um local. O propósito é, portanto, PROTEGER o Terreiro, o ambiente, a casa, as pessoas, os médiuns e tudo que não deva se "negativar" dentro desse local, sendo que a abrangência de forças dessa firmeza se restringe somente a essa área específica e aos que ali adentrarem ou estiverem.

   Via de regra, qualquer firmeza de proteção firmada na entrada de um ambiente é considerado um "Contra-Ajé".

   Tradicionalmente, o Candomblé e algumas vertentes de Umbanda utilizam como base: ovos, alguidar, dendê e oagi. Mas muitas formas de se montar podem existir, sendo o limite o conhecimento de quem o faz.

   Os "Contra-Ajé" costumam ser feitos com 7 ovos, dispostos dentro de 1 alguidar de barro e regados com dendê e salpicados com oagi, às vezes com um pouco de água.

   A lógica, ou fundamento disso, remete-se mais propriamente aos elementos:


TERRA => Alguidar - Axé Preto

                   Omolu e Linha das Almas

FOGO => Dendê - Axé Vermelho

                 Iansã, principalmente

AR => Oagi - Axés Preto e Branco

            Ogum, principalmente

ÁGUA => Água - Axé Branco

                Oxum, principalmente

OVOS => Na Tradição Yorubá, o ovo representa a vida e a fertilidade, fundamentado em Mãe Oxum, pois o ovo é de onde a vida é concebida, é a representação de uma vida que nasce. Oxum também está ligada às Senhoras Yami-Oxorongá, que são Elementais de polaridade Negativa, alimentando-se da negatividade absorvida no mundo humano, também das Casa de Axé, que no caso é pra proteção. E o ovo, quando manipulado por Exu, afasta fofocas, fuxicos, brigas, discussões, entre outras funções de proteção.

   Portanto, ao firmarmos um "Contra-Ajé", estamos ativando um poder que servirá como uma espécie de "pára-raios" absorvedor da negatividade do ambiente, das pessoas, das "formas-pensamento" e dos procedimentos religiosos e magísticos. 

   Caso o médium tenha conhecimento, poderá firmar seu "Contra-Ajé" com Poderes e Forças mais específicas às finalidades que deseja, conectando-o mais eficientemente as Forças e Poderes do Terreiro e/ou da Gira que será realizada.

   Apenas para elucidar, um "Contra-Ajé" pode ser com 5 ovos, 9 ovos; pode-se combinar o uso de outros pós (por exemplo, ossun ou enxofre); pode-se usar cebola, parafusos, arruda, velas, côco, garra-de-exu, olhos de cabra, etc.

   Mas, Deve-se ter conhecimento e experiência para se utilizar dos benefícios dessa Firmeza, além do típico e básico (Alguidar, ovos, dendê e oagi). 

   Um velho ditado já diz: "Não mexa com aquilo que não sabe e não conhece". Portanto, mais vale uma Firmeza simples, bem feita, montada com conhecimento de causa e ativada com Fé, do que "inventar" algo que não sabe e acabar se prejudicando e aos outros.

domingo, 13 de junho de 2021

Umbanda cultua Orixá?

 Existem alguns desentendimentos no seio religioso umbandista quando se discute sobre "Culto a Orixás" e este esboço vai ao encontro de levar um pouco de esclarecimentos ao praticante, se na Umbanda se cultua ou não se cultua Orixás.
   Primeiramente, gostaria de expor conceitos sobre o que significa "cultuar":

   "No contexto religioso litúrgico, um culto (do termo latino cultu) constitui um conjunto de atitudes e ritos pelos quais um grupo de fiéis adora ou venera uma divindade."

FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 508.

  Existe um termo grego λατρεια (latreuo) que significa ADORAR. É muito utilizado teologicamente, especialmente pelo Catolicismo e Ortodoxia, que é o devido culto somente a Deus.
  Como adendo, gostaria de dizer que também existe outro termo grego que é utilizado teologicamente, que é δουλεια (douleuo) que significa HONRA, que é o que consideramos como veneração aos "Santos".
   Ora, sabemos que a Umbanda é uma religião que reconhece a existência de UM ÚNICO DEUS, que chamamos de Olorum, Zambi ou Olodumare. Mas vale lembrar que o conceito de Deus na Umbanda é Panenteísta.

   "PANENTEÍSMO pode ser entendido como uma forma de "Monoteísmo" combinada com "Panteísmo", afirmando que Deus é o "TUDO" da existência, está inserido na existência, mas NÃO é idêntico a esse "tudo", tem suas próprias essência e pessoa. Logo, Deus é tanto IMANENTE (está na Criação) quanto TRANSCENDENTE (transcende a Criação, tendo sua particularidade, "além" e "maior" que a Criação)."


   Baseando-nos nestes conceitos aqui expostos, concluímos que a Umbanda tem, portanto, seu Culto a Deus. E, uma vez que Deus manifesta-se na Criação através de Seu Espírito, Imanente, que são as Sete Linhas, podemos definir que a Umbanda tem nas Sete Linhas um dos princípios básicos de Culto a Deus.
   Às Sete Linhas são as Irradiações, Energias, Magnetismos, Essências, Fatores, etc, que emanam de Deus e Geram TUDO que existe, sendo a fonte de Suas Divindades, os Orixás.
   Deus, através da sua Manifestação das Sete Linhas, Gera os Sagrados Orixás (Maiores) de Si e estes são, cada qual, uma qualidade de Deus, atrelado a uma Linha Primordial da Umbanda.
   Se a Umbanda tem como base o Culto a Deus e Suas Sete Linhas, então Suas Qualidades, os Sagrados Orixás, são também cultuados.
   Os Orixás Maiores são manifestações do próprio Deus na Criação, são Suas Divindades, cujo alcance é infinito em todos os níveis, dimensões, realidades e faixas vibratórias, atrelados cada um no limite dos seus aspectos, qualidades, essências, atributos e atribuições.
   A partir Deles, toda uma Hierarquização de Tronos, Graus e Degraus passam a ocupar determinadas "abrangências" da existência, onde Seres Ascensionados ocupam tal posição e são assim os "Orixás Intermediários" e "Orixás Intermediadores", em todos os níveis e sub-níveis da Criação.
   Na religião de Umbanda, alguns desses Orixás geram e regem os Poderes e Forças das Linhas de Trabalho, em que espíritos de alta evolução ocupam e manifestam esses poderes e forças, agregando espíritos e fornecendo suas "armas" e são identificados por nomes simbólicos, formando-se assim as Falanges de Trabalho, da Direita e da Esquerda; são nossas Entidades ou Guias.
   Entidades são espíritos desencarnados de ancestrais que podem ser incorporados por médiuns durante os cultos nos terreiros de Umbanda, que cumprem funções ligadas à cura, ao aconselhamento, etc, e são descritas como tipos populares da realidade social brasileira.
   Portanto, a Umbanda crê na existência de uma Fonte Criadora Universal, um Deus Supremo e pratica o culto aos Orixás como manifestações divinas, onde cada Orixá se confunde com um elemento da natureza, do planeta ou da própria personalidade humana.
  A mediunidade é a forma de contato entre o mundo físico e o espiritual, em que há a manifestação das Entidades ou Guias, espíritos em processo de evolução, para exercerem o trabalho espiritual, incorporado em seus médiuns, organizados em Falanges, Agrupamentos, Linhas de Trabalho ou Planos de Evolução.
  Entendidos esses princípios teológicos, podemos considerar que os espíritos trabalhadores da Seara Umbandista devam ser HONRADOS ou VENERADOS, em que se caracteriza o conceito de
δουλεια - douleuo (explicado já neste texto acima).
   Portanto, a UMBANDA CULTUA OS ORIXÁS, mas à sua maneira! Não podemos confundir o quê é cultuar Orixá na Umbanda e o quê é cultuar Orixá no Candomblé.
   O Candomblé tem toda sua própria ritualística, sua Iniciação, suas Obrigações, seus Sacrifícios Sagrados, suas Comidas de Santo, etc, que são tradições milenares herdadas da África e re-implantadas no Brasil na formação dos Cultos de Nação. O Candomblé tem nos ITANS (mitos) as bases de interpretação das caracterizações, definição de enredo, de caminhos dos Orixás, suas histórias, etc.
   A Umbanda tem como fonte, como uma das suas matrizes formadoras, os Orixás do Candomblé e algumas práticas e ritualísticas, mas tem outra interpretação dos Orixás, não inventadas ou mudadas, mas sim re-interpretadas. Não se mudam os Orixás! Seus fundamentos, suas bases, suas comidas, suas quizilas, etc, são RE-INTERPRETADAS na Umbanda!
   Dizer que a Umbanda NÃO CULTUA Orixás É NEGAR suas bases primordiais, seus fundamentos pétreos. Mas não cultuamos como nos Candomblés, isso é fato, por isso a negação dos Candomblecistas em afirmar que não existe culto dessas Divindades na Umbanda.
   Espero que este texto sirva de instrução e esclarecimento. Não é intento criar discórdia ou gerar o ódio entre as religiões, mas cada uma no seu campo teológico.


Pai Juliano de Oxalá

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segunda-feira, 8 de março de 2021

OLORUM - Conceito de Deus na Umbanda

 Olorum

Muitas dúvidas pairam no ar quando o assunto é saber em "qual Deus" o umbandista crê. E a resposta é muito simples: cremos em "UM DEUS"! Contudo, precisamos de uma explicação teológica consistente a partir desse conceito primordial. Sabemos que as chamadas religiões abraâmicas - o Islamismo, o Cristianismo e o Judaísmo - são denominadas Monoteístas, ou seja, todas elas crêem na existência de Um Deus, Criador de tudo e de todos, Onipotente,Onisciente e Onipotente, Singular e Imensurável, Pessoal e Eterno.  Outros conceitos sobre "A Divindade" também existem, como: Politeísmo - crença em vários "deuses" (mas há subdivisões de interpretação); Panteísmo - Deus é a própria Natureza, todo o conjunto de tudo que existe, sendo também considerado "Um", porém não desvincula "Deus" de sua Criação, como o Monoteísmo, que coloca "Deus" distinto, à parte, da Criação; Panenteísmo - este sim o conceito umbandista, o qual abordaremos mais detalhadamente. O PANENTEÍSMO pode ser entendido como uma forma de "Monoteísmo" combinada com "Panteísmo", afirmando que Deus é o "TUDO" da existência, está inserido na existência, mas NÃO é idêntico a esse "tudo", tem suas próprias essência e pessoa. Logo, Deus é tanto IMANENTE (está na Criação) quanto TRANSCENDENTE (transcende a Criação, tendo sua particularidade, "além" e "maior" que a Criação). Um dos conceitos do Panenteísmo Umbandista é a definição de que "o Mau não é o Oposto do Bem", pois o postulado teológico não é dualista ("duas naturezas, essências ou pessoas divinas", uma boa e seu oposto mau), entendido a existência do Mau apenas pela ausência do Bem (Deus de fato). Curiosamente, podemos encontrar na Bíblia um trecho no Livro de Atos dos Apóstolos dois versículos que podem ser interpretados como de conceito puramente Panenteísta.

Actos  17:28,29

"Porque Nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como, também, alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos, também, Sua geração. Sendo nós, pois, geração de Deus, não havemos de cuidar que a Divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens."

Não queremos aqui afrontar a Teologia Cristã, solidificada há séculos e saturada já com suas definições, interpretações e Dogmas, não mesmo! O que o Cristianismo apregoa e defende não nos compete como Umbandistas qualquer afronta, exceto o diálogo inter-religioso, em que cada parte expõe, respeitosamente, seu ponto de vista. E, do nosso ponto de vista, esta passagem do Livro Sagrado Cristão (Bíblia) é a nós interpretada como Panenteísta. E ponto final! Quando dizemos que Deus é TRANSCENDENTE, queremos afirmar que Ele está Além da Criação, além do Tudo e do Nada; possui Sua Essência, Sua Substância própria, Impenetrável, Inefável e completamente alheia e Infinitamente Superior à Criação em sua totalidade. Logo, essa SUBSTÂNCIA DIVINA é a PESSOA DIVINA, resumidamente, o próprio Deus, ou OLORUM. Quando dizemos que Deus é IMANENTE, queremos afirmar que Deus também está Interpenetrado na Criação, que está inseparavelmente contido na natureza de tudo, é Inerente a tudo. Isso quer dizer que a ESSÊNCIA DIVINA permanece a mesma, porém representando Deus a Si Mesmo em um "novo" aspecto, uma  SEGUNDA PESSOA. Para que fique claro, significa que Deus no Seu mais profundo íntimo e ESSÊNCIA, é TRANSCENDENTE, é uma PESSOA caracterizada como "algo" infinitamente além da compreensão e além da Sua criação, mas com total Onisciência e Onipotência - OLORUM. E Deus, ainda na Sua ESSÊNCIA, transfigura-se, Cria-se numa SEGUNDA PESSOA, indissociado da Sua Criação e fazendo também parte dela. Através da SEGUNDA PESSOA tudo foi e é criado e tudo está ou fica contido Nele, e esta Divindade na Umbanda é nosso Grande PAI OXALÁ. Através da Manifestação de Oxalá, Olorum irradia em Si e de Si aquilo que chamamos de SETE LINHAS, onde são GERADOS os SAGRADOS ORIXÁS, todos Eles. Portanto, as SETE LINHAS DE UMBANDA são as Manifestações de Olorum através de Oxalá, surgindo, assim, todas as Hierarquias das Divindades de Deus, os SAGRADOS ORIXÁS. Podemos elucidar, então, que temos uma TRINDADE DIVINA, em que encontramos: OLORUM - OXALÁ - SETE LINHAS (ORIXÁS). Neste nível Divino, todas essas PESSOAS DIVINAS possuem a ESSÊNCIA DIVINA, mas cada um tem sua PERSONIFICAÇÃO, seus aspectos, qualidades, próprios. Devemos alertar os leitores, que esta Trindade Divina é o PRÓPRIO DEUS, não se tratam dos Seres Criados que evoluíram e alcançaram tais níveis ascensionados e evoluídos. Conforme explicaremos oportunamente, a meta da criação é a Divinizacão, quando os seres voltam ao "Interior" Divino, encontrando-se neste conceito uma das características da imanência de Deus. Sabemos que estes argumentos teológicos apresentados são de difícil entendimento, mas como nos propusemos ao clarear dos conhecimentos da Umbanda, é mister que expliquemos. Enfim, o que deve ser entendido pelos leitores é que DEUS forma uma TRINDADE: OLORUM - OXALÁ - SETE LINHAS (ORIXÁS). E é a partir dessa Trindade que tudo tem suas raízes e suas explicações teológicas, assuntos que abordaremos mais à frente.

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Sobre o Templo de Umbanda Luz Divina

 Busco, neste texto, um bom esclarecimento sobre o Templo e a necessária transparência aos leitores dos verdadeiros propósitos que nosso grupo religioso se propõe. Somos dedicados totalmente à prática da Fé e da Caridade, sendo que realizamos os trabalhos de forma gratuita e sem as tão famigeradas "misturas" de ritos religiosos de matrizes afro-brasileiras, tudo segundo as determinações do Caboclo Ventania, Guia Chefe da Casa. Talvez não fosse necessário expor coisas como "não cobramos" ou "não aceitamos trabalhos com propósitos chulos", mas se faz sim necessário tal exposição por causa do mau uso da religião por alguns apenas para ganhar dinheiro ou enaltecer seus egos e vaidades. A Umbanda deve ser uma religião que salva, inspira, acolhe, ajuda e ensina, não um local de práticas de baixo espiritismo, bebedice, fofoca, comércio religioso e/ou encomenda de feitiçarias. Infelizmente, o meio religioso afro-brasileiro, particularmente a Umbanda, precisa de uma reconstrução de conceitos e valores ético-morais, afinal, é revoltante muita coisa que testemunhamos nas práticas duvidosas de alguns ditos Pais e Mães de Santo. Não concordamos com a mistura de Ritos do Candomblé na nossa Casa, nas nossas práticas e nem nos propomos a desenvolver nosso corpo mediúnico com Orôs (sacrifícios), Buris (Comida à cabeça) ou Feituras de Santo. Por outro lado, não nos opomos e respeitamos aqueles que declaram abertamente serem do "Umbandomblé" (Umbanda com Candomblé) e o fazem com as responsabilidades inerentes e sem rotulação, bem como respeitamos o Omolokô e suas particularidades; enfim, respeitamos toda forma de religião ou culto, desde que sigam pelos princípios a que devem se propor. Não julgamos quem quer que seja, qualquer ritual, mas não consideramos rituais que fazem a maldade como umbandistas.Temos todo um conjunto de rituais estabelecidos segundo os Princípios Tradicionais da Umbanda, segundo a Teologia Umbandista e sempre em consonância aos ensinamentos do Caboclo Ventania. Para ser bem direto: somos uma Casa de Umbanda, que trabalha com Umbanda, que desenvolve os médiuns pela Umbanda e que ensina Umbanda. Cremos que a Umbanda é por si só completa como religião e não precisa recorrer a recursos alheios. Não somos nem superiores nem inferiores a qualquer Casa de Umbanda ou religião, apenas nos calcamos nos valores religiosos de cunho elevado e segundo a doutrina moral de Jesus. Sou Sacerdote e, antes disso, sou um Médium Umbandista e, antes disso, um fiel à religião e insatisfeito com práticas do mau que se fazem nessa Seara religiosa implantada no Brasil através do Caboclo das 7 Encruzilhadas. Não somos perfeitos, erramos também, mas pela imperfeição a que seres humanos estão imbuídos. Não somos "o exemplo", apenas buscamos fazer na Umbanda o melhor dentro dos nossos limites. Trabalhamos fundamentados em 7 Linhas, que na Casa chamamos de: Oxalá, Águas, Matas, Lei (Ar), Justiça (fogo), Omolu (Terra) e Esquerda. Trabalhamos com as linhas de trabalho: Direita - Caboclos, Pretos-Velhos, Erês, Baianos, Boiadeiros, Ciganos e Marinheiros; Esquerda - Exu, Pombagira, Exu-Mirim e Pombagira-Mirim. Os Orixás que cultuamos na Casa são: Oxalá, Oxum, Yemanjá, Ibeji, Oxóssi, Xangô, Ogum, Iansã, Obaluayê/Omolu e, estes demais não regularmente, Nanã, Obá e Oxumarê. Os médiuns são desenvolvidos através de: Mediunidade (desenvolvimento); Assentamentos/firmezas (Anjo de Guarda, Esquerda, etc); Deitadas (Camarinha); Amacis;  Oferendas; Doutrinação Evangélica.

Espero ter alcançado a compreensão básica de nossos princípios. Obrigado pela paciência de terem chegado sua leitura até aqui. Que Deus e os Sagrados Orixás lhes abençoe!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Minha história mediúnica

 Sejam todos bem vindos e que Oxalá lhes abençoe!!! Sou Sacerdote Juliano de Oxalá e gostaria de convidá-los a entender um pouco do meu histórico na Umbanda, do Templo de Umbanda Luz Divina e os propósitos de nossos trabalhos Espirituais.

Nasci e cresci numa família de raízes portuguesas e muito, muito ligada à Igreja Católica, religião essa que eu já me apegara desde cedo. Ao longo do meu crescimento, eu criava um interesse cada vez maior em conhecer o Catolicismo e me deparara com o que eu chamo de "primeiro choque teológico" quando descobri a existência dos Evangélicos, sim!, os "crentes". O que aprendi sobre os chamados "crentes" eram (infelizmente) conceitos preconceituosos, como se eles fossem a escória revoltada da Igreja Cristã, fato esse que me criou, digamos, certo medo, receios e um mal sentimento quando eu me aproximava de algum meio, pessoas ou templos evangélicos. Fora o que meus antigos familiares traziam de cultura, não era algo, digamos, maldoso. Mas, com o meu desenvolvimento intelectual e de idade, na adolescência esse "desprezo" às outras religiões cristãs também despertou um interesse gigantesco em entender o Cristianismo, em vários aspectos: sociais, teológicos, culturais, históricos, etc. Já tinha desde tenta idade o impulso em estudar o Catolicismo, principalmente depois da Primeira Comunhão, por volta dos 11/12 anos, não me recordo exatamente qual idade. Claro, minhas referências de estudo eram bem básicas e direcionadas ao Catolicismo; afinal, eu vivia com minha tia, extremamente católica, que foi quem me criou e deu toda minha formação ética, moral, princípios, educação, etc, e conhecia diversos membros da Igreja, como Padres e Freiras. Além disso, meu Padrinho de Crisma, genro da minha tia, muito católico, teve importantíssima presença na minha vida como fonte de conhecimento e bibliografias literárias, entre outras importâncias. Portanto, estudei freneticamente o Catolicismo na minha adolescência e me apaixonei de vez por essa religião, pra mim à época, realmente "A Verdade"! Mas, uma terrível dúvida me perseguia: o porquê de existirem outras religiões, cristãs e aquelas à época totalmente distantes de minha realidade, como Islamismo, Budismo, Hinduísmo, etc, etc e etc. Como Deus permitiu isso??? Como poderia ter um Deus que permitia que outros seres humanos não tivessem o conhecimento "da verdade", o Catolicismo? O que aconteceria após a morte dessas pessoas não batizadas ou que sequer ouviram falar de Jesus durante suas vidas? As respostas eram totalmente "idiotas" (e ainda considero isso). Eram do tipo: "não se salvarão; não poderão entrar no Céu; irão a um plano espiritual à parte, que chamam de 'limbo'; entre outras respostas". No Ensino Médio, deparei-me com o Islamismo nas aulas de história e aquilo brotou dentro de mim uma tremenda curiosidade. Descobri o Profeta Muhammad ("Maomé") e que o Islã era a religião que mais crescia no mundo: eu tinha que descobrir por quê! Paralelamente, tinha amigos espíritas, com os quais eu debatia fervorosamente contra. Pra mim, à época, espiritismo e religiões de matriz afo-brasileira eram coisas atrasadas e sem sentido. Bem, por volta dos meus 20, 21 anos, eu aprofundava meus estudos religiosos e já sem muito do "filtro preconceituoso" cristão que eu carregava. Eu estava mais aberto ao relativismo cultural! Após pesquisar, resolvi ir a uma Mesquita Islâmica que eu descobrira o endereço - lembrem de que nessa época não havia a facilidade do "Google", como hoje. Certo dia, fui à Mesquita, fui bem recebido e passei a frequentar as aulas que eles ministravam para leigos, alguns dias da semana. Era uma Mesquita Xiita, que eu nem fazia ideia à época das divisões do Islã! Certo dia recebi uma carta me convidando para a inauguração de uma Mesquita; acreditem: no meu bairro!!! Fui até lá no dia e disse que estava vez ou outra frequentando uma Mesquita Xiita, o que espantou a todos ali: eram Sunitas! Explicações dadas sobre as diferenças de Xiitas e Sunitas, como poderiam ter me mandado tal carta, haja vista não terem nada no cadastro deles sobre mim e a possibilidade de ter saído os dados meus da Mesquita Xiita era impossível. Deduziram lá que fora um "milagre" de Allah, que "me escolhera" para a Conversão (o termo correto é Reversão, segundo o Islamismo), o que gerou muito entusiasmo e minha ótima recepção no local. O que ocorreu? Afastei-me das religiões: Catolicismo e Islamismo. Passei a aprofundar meus estudos em uma figura que eu admirava muito e era presente tanto no Cristianismo quanto no Islamismo: Jesus! Estudava, pesquisava e lia TUDO sobre ele, entre diversas fontes e formas de entender esse "homem" tão fascinante. Após um tempo, deparei-me com um sério problema na vida, uma fase ruim mesmo, até que um amigo de infância pedia para eu aceitar que um tal de "Seu Tatá Caveira" me ajudasse. Neguei até onde deu, mas um dia eu o desafiei, falei que trouxesse o tal espírito, mas que eu o testaria. Uma noite, tudo acertado, charuto, bebida, Pemba, velas e lá na minha casa meu amigo abriu a Gira. Testei até onde pude, joguei, fiz perguntas profundas sobre mim, sobre tudo e, pra minha surpresa, eu conversava com um verdadeiro sábio. Não era possível meu amigo saber aquelas coisas, sequer tinha muita instrução, quanto mais conversar de forma tão acadêmica e filosófica. Conclusão: apaixonei-me por aquela tal "Umbanda"! Passei daquele ano, início de 2000, a estudar tudo sobre a Umbanda, visitar o Terreiro de que meu amigo fazia parte. Virei membro da corrente desse Terreiro, que praticamente é, hoje, minha base doutrinária e princípios do que faço na minha Casa: Tenda de Umbanda Caminho de Fé, Casa chefiada pelo Caboclo Tupã e Pai Guido de Ogum. Fiquei alguns anos alí e passei a seguir os conselhos do meu Pai: ir procurar os locais que ele indicava para fazer cursos e ler os livros que ele aconselhava. Acabei fazendo diversos cursos teóricos, doutrinários, teológicos e práticos no Templo da Estrela Azul, chefiado pelo Caboclo 7 Ventanias (se eu não estou maluco e me confundi) e Pai Juruá (Rogério de Oxalá). Sai do terreiro e parei os cursos, passando a me aprofundar mais nós estudos acadêmicos sobre a Umbanda, com orientação de professores universitários os quais eu recorri. Fiquei uns 2 anos sem Casa e só visitando todo tipo de Terreiro, até que (acho que no ano de 2006 conheci o Pai Antônio Monteiro e seu Terreiro, chefiado pelo Caboclo 7 Estrelas. Mais cursos eu fiz alí (além de outros fora), além de trabalhar na corrente mediúnica como Cambono. Pasmem, durante uns 6 anos não senti uma vibração, um nada que remetesse a uma manifestação mediúnica, somente camboneava e acreditava piamente que eu não era incorporante. Certo dia fui visitar meu antigo Terreiro e era Gira de Pretos-Velhos, que eu adoro. Pai Tomás me chamou, e, como se fosse tudo combinado, chamou meu Preto-Velho. Eu nem sabia o que fazer, mas algo começou a acontecer, bom demais, inexplicável eu acho. Uma força começou a tomar conta de mim e minha mente começou a ir sabe Deus pra onde. Sei que eu estava com o corpo abaixado, tremendo, acho que dançando ao som de atabaques e fazendo coisas que eu não pensava ou queria. Quando dei por mim de forma, digamos, consciente, eu estava levantando as costas e sentindo aquela força "saindo", não sei bem explicar. Pai Tomás então olhou pra mim e disse, algo do tipo, "quem disse que fio não era incorporante". Bem, continuava no meu atual terreiro e, após isso, passei a sentir meus Guias nas giras e, em torno de um semestre eu simplesmente recebia todas as linhagens! Era hora de confirmar pontos e nomes, momento que nós literalmente "nos cagamos" de medo. Tudo ocorreu (sabe Deus como) perfeitamente e passei a ser médium passista, até que muito rapidamente, numa gira de Caboclos, Pai Antônio vira-se pra mim e fala: "Hoje você e seu Caboclo vão atender." Meu Deus!!! Um frio na barriga e um princípio de disenteria parecia tomar conta de mim, que tremia e desejava sair correndo dali. Gira tensa! Desespero! Ansiedade! Não teve jeito, chegara a hora, Caboclo Ventania tinha chegado. Nunca tinha atendido, não conhecia um alma que iria passar comigo, mas no final deu tudo certo. Daí fui pegando confiança e aprendendo... Aprendendo muito!!! Com mais uns meses, desenvolvi-me tanto que tornei-me Pai Pequeno. Fiquei uns dois anos, pouco mais talvez, até que sentia uma voz na minha cabeça sempre dizendo: "Seu tempo aqui acabou!" Sentia o Caboclo Ventania dizendo e ficava encucado. Cada Gira ficando mais intenso o recado e a presença do Caboclo na incorporação menos presente. Estranho, não?! Sim, muito! Até que um dia ele não veio, não incorporei. Bom, daí não teve jeito, entendi o recado e acabei saindo mesmo da Casa, confiando no meu Pai Ventania. Depois disso, veio aquela terrível dúvida: e agora? Depois de pouco tempo,  comecei a trabalhar a Umbanda, algumas vezes, com um amigo, aquele que incorporava o Exu Tatá Caveira, que já falei anteriormente neste texto.

Não demorou nem dou ou três meses e eu resolvi abrir um espaço religioso próprio, na minha casa, num quartinho que havia na área externa. A minha intenção era trabalhar sozinho, com certa peridiocidade, de forma autônoma. Montei a estrutura física do terreiro, com as firmezas e assentamentos básicos e comecei minha jornada mediúnica. Não demorou e a "casa" estava cheia! Um e outro querendo "entrar" e pessoas pedindo atendimento. Agreguei as pessoas que queriam alí ficar e comecei ensiná-los e desenvolvê-los. Não tardou e precisei de espaço! Transferi do pequeno cômodo para a garagem da minha Casa, que era grande. Ali então se sedimentou a Tenda de Umbanda Caminho de Luz; este foi primeiro nome que eu utilizei. Isso aconteceu creio que entre 2008 e início do ano de 2010, quando todo um corpo mediúnico e doutrina estavam estabelecidos. Depois mudei o nome para Tenda de Umbanda Caboclo Ventania, Templo de Umbanda Caboclo Ventania até chegar ao definitivo a partir de 2015: Templo de Umbanda Luz Divina!!! É um Templo dedicado ao desenvolvimento da Fé, do Amor, da Evolução e da Caridade. Não há trabalhos cobrados, coisa que (talvez) nem precisasse eu dizer aqui, mas sou "obrigado" a fazer, hajam vistas conhecidas práticas desprezíveis de certos grupos "religiosos" no meio Umbandista. O Templo se baseia no meu aprendizado e nas doutrinas que o Senhor Caboclo Ventania implantou, criando assim o que chamamos Axé Ventania, cujos leitores poderão conhecer melhor ao longo do tempo. Que Deus abençoe a todos, perdoem-me pela extensão do texto e obrigado por ter paciência e ter chegado até aqui. 

Motumbá!!!