sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Sobre a formação da Umbanda como religião brasileira

 O propósito ao qual foi proposta a reflexão, refere-se a uma indução para que vocês comecem a expandir a mente sobre a natureza real do que é ser umbandista e suas relações com os demais cultos existentes em solo brasileiro e alguns outros países da América. E nunca se esqueçam que o Brasil é praticante "um continente" de tão grande que é nosso país, ocupa metade da América do Sul!

Devemos sair do "buraco exclusivista" religioso que naturalmente tendemos a nos alienar, abominando tudo aquilo que é diferente do que aprendemos e convivemos. A Umbanda não é e nunca foi uma religião igual a "essa" que cada um conheceu e segue. A Umbanda é maior que isso e pode ser comparada a um novelo de "teia de aranha", onde não dá mais pra buscar a linha que te leva para o "meio" do novelo, para onde tudo começou a acontecer, pois isso não existe. Obviamente, encontramos sim ancestralidade de rituais, práticas, crenças e podemos identificar bem os cultos originais que deram origem a grande parte da Umbanda. 

Existe na Umbanda um "Mito de Origem" em Zélio de Morais e o Caboclo das Sete Encruzilhadas, porém é o que é: um mito de origem! A Umbanda não nasceu assim. Segundo meu entendimento, foi oficializada e reconhecida em 1908. 

Com a disseminação das crenças africanas e a fundação das antigas Casas de Candomblé de todas as "Nações", bem como de cultos como o Terecô no Maranhão, o Tambor de Mina no Pará (se não me engano),a Cabula no Espírito Santo, as "Macumbas" Cariocas, os Batuques do Rio Grande do Sul, a Umbanda de Almas e Angola de Santa Catarina, o Catimbó do Nordeste, além de influências kardecistas e católicas populares, além das pajelanças de várias nações indígenas, todo um arcabouço sincrético entre as divindades dessas religiões aconteceu, surgindo assim a introdução em toda parte de Espíritos Ancestrais Brasileiros, que apresentavam-se com arquétipos de Pretos-Velhos, Caboclos, Erês, Baianos, etc. 

E o trabalho dessas Entidades passou a ser introduzido gradativamente e com características próprias, que acabaram convergindo a um modo de trabalho espírita tipicamente brasileiro, chamado Umbanda. Dentro desse processo de assimilação, Exus e Pombagiras foram adentrando nos cultos, mostrando seu jeito de ser e identificando-se com nomes "de guerra" diferentes daqueles que outrora eram usados na África pela Divindade Exu Africana, nascendo assim uma dissociação entre o que era Yoruba e o que é agora Exu e Pombagira no Brasil. Associação ancestral e campos de atuação iguais, mas agora formas de culto e de rituais diferentes, pois não são os mesmos "espíritos". Assim como houve uma apropriação na forma dos cultos negros e indígenas com um novo jeito brasileiro das Entidades de Direita e Esquerda, ocorreu também essa reinterpretacão dos Orixás, que tornaram-se o "primeiro escalão" na Umbanda. O Ogum, a Iansã, o Oxalá, etc, da Umbanda, não são mais os correspondentes Africanos. Tínhamos, na África, Orixás com suas Qualidades e seus Caminhos, seus Cultos e suas formas ritualísticas; temos na Umbanda uma nova visão sobre eles, surgindo assim, por exemplo, a Iansã dos Raios, Xangô das Cachoeiras, Ogum Iara, etc. A essência é a mesma, obviamente, e isso não pode nunca mudar! Não foram mudados os Orixás, foram reinterpretados e esse é o limite. 

Portanto, vamos expandir nossas visões, nossas mentes, e não enxergar no outro "o erro" e na nossa Casa "o certo". Se um processo sincrético, reinterpretativo e de bricolagem aconteceu nos mais variados cantos de nosso país, originando as "Umbandas", quem somos nós para concluir que a Umbanda praticada na nossa região geográfica é a "certa" e as outras estão "erradas". Enfim, conheçamos todas as fantásticas manifestações religiosas brasileiras com a mente aberta, assim como reconheçamos que a Umbanda é um Movimento Religioso Brasileiro típico, porém cada Axé reconhecido como parte legítima do seu processo histórico, cultural e geográfico de formação. Axé!!!